À Andrew Solomon

Carta resposta para Andrew Solomon

Querido Andrew.

Como vai?

Sinto muito por ler sua carta apenas agora... Já faz muito tempo, não é mesmo?

Meus olhos só não se emocionaram mais porque eu estou sobre o efeito contínuo do "flux", mas eu consegui ver o seu demônio do meio-dia por dentro do seu olhar. Me senti aliviado de ter escutado uma história tão honesta sem eu me sentir culpado. Sabe, aqui onde eu moro as pessoas não entendem o que é conviver com isso, e essa sua visão por dentro da mente depressiva foi mais que uma poesia. Foi como um filme clássico, digno de receber um Oscar por melhor roteiro adaptado, roteiro esse, referente a sua anatomia da depressão.

Por aqui, acho que por aí também, são tantas pessoas dividindo as mesmas histórias, experiências e desafios emocionais... Contudo, o medo de deixar a loucura ser apenas uma característica a mais na personalidade, faz com que essas pessoas camuflem suas oscilações de humor, e assim elas vivem em partes. Em partes cheia, em partes vazia, em partes nada a ver...

Quando você comentou que só entrou nesse estado após ter resolvido quase todos os seus problemas, eu percebi que finalmente não estou sozinho, porque é exatamente assim que eu me sinto nessa etapa da minha vida. E sabe o que é pior? É a gente ter de tudo, mas o levantar de manhã ainda se torna um peso, e se não tiver uma dose do "flux" para fazer o tempo continuar, eu acho que já teria largado muita coisa. E o medo? Esse é um dos problemas!

O medo de parar e assistir de perto a própria ruína é de enlouquecer, não é mesmo?

Ok, salve salve os estabilizadores de humor, ansiolíticos, antidepressivos! Sim.

Eu só não consigo ainda te explicar se eu me enquadro no fator genético, se sou fruto do meio ou se é apenas crise de meia-idade. Talvez seja um pouco de tudo. Que bagunça, já pensou?

E sabe o que mais me assustou? Foi quando você disse que para pessoas como nós, o uso contínuo dos remédios é a melhor saída. Porque esse negócio de fazer tratamentos periódicos apenas quando as crises aparecem é um erro quase que fatal. Fatal quanto ao cérebro, e aqueles termos científicos que você citou na sua carta. Então você quer dizer que uma vez que começamos a fazer um tratamento, o uso da medicação precisa ser para toda uma vida? Senão nós corremos um sério risco de cada crise ser pior que a outra, e mais complexa? Imagina só!! Isso me deixou muito desanimado. Não estou dizendo que acredito que eu iria me curar. Eu sei que isso funciona mais como um controle, mas pensa bem! O diabético fazendo uso de insulina é uma coisa, e o depressivo fazendo uso da serotonina sintética é outra coisa bem diferente, não é não? Ah, pois eu me recuso! Mas realmente eu preciso concordar contigo porque em 2014, quando a minha médica falou que o meu colapso foi pelo fato deu ter feito um mau tratamento mental em 2006, foi a causa da crise depressiva ter vindo muito forte. Olha, eu só sei que fiquei com mais preguiça do mundo... tsc tsc tsc.

Bem, obrigado por me escrever, e eu espero poder continuar tendo notícias suas.

Espero conhecê-lo em breve.

Saudações, Dom.

Dominic M
Enviado por Dominic M em 09/08/2017
Reeditado em 09/03/2024
Código do texto: T6078950
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