Carta sem título
Eu já me suicidei várias vezes, e só quem já se suicidou sabe como é difícil.
Me suicidei no silencio..
Me suicidei nas risadas..
Me suicidei nas palavras que não tive coragem de te dizer..
E vou me suicidar amanhã quando acordar, quando eu levantar da cama num escuro sem sentido
Mas vamos por partes porque a morte pode esperar...
Quando você pensa em se matar pela primeira vez, no início te da certo medo, uma aflição de ter essa idéia passando pela cabeça.
A ansiedade cresce
E os dias passam mais devagar.
Depois vem o conflito interno, que faz você se questionar se esse é mesmo o caminho correto.
E por último...
Vem a elaboração mental da desculpa, que surge nas noites que você passa sem dormir, para
Se convencer de que essa e a única medida plausível a ser tomada para acabar com isso.
Serei breve daqui para frente, já que o vazio e inexpressável.
Como expressar essa dor uivante que rasga...
Que sufoca...
Que tira...
Que nada... Não há mais nada.
Como disse um querido amigo:
''Setembro está chegando, mas eu não quero chegar’’
Estamos quase lá então peço a sua licença para usar,
E com essa decisão me liberto de ter que chegar a algum lugar.
Só vou me deixar, parar de resistir
Esperando alguém que venha me buscar.
Todo suicídio há uma pós vida, e prova disso é eu estar escrevendo essa carta.
Talvez dessa vez o meu suicídio não me leve de volta à vida que me matou.
Maldita e cruel... me forçando a me matar e me matar até dar a sorte de morrer.
Não quero lágrimas nem luto,
Apenas compreensão
E daqueles que puderem me dar, gostaria do seu perdão.
Enceno o fim e enfim começo
O ato mais corajoso e verdadeiro da minha vida é a morte
Quanta ironia em uma só linha...
Mas não se preocupem, o palco há de ser belo
Afinal,
Logo mais os bougainvilles da cidade estarão todos floridos.