COMENTÁRIO CRÍTICO DE MARCIO LINHARES

Transcrevo abaixo a leitura critica de um amigo, o psicologo Marcio Linhares, a meu pedido a partir da leitura do meu texto. Concordo plenamente o que ele comentou.

"como você pediu que eu fizesse a minha análise critica do texto, por ter uma referência diferente para você, eu a fiz aqui.

Reli o texto. Exige um tempo para ser digerido mesmo porque não dá para entender todo o posicionamento do J. R. Guzzo.

Ele começa questionando quem é “contra a liberdade de religião no Brasil”. Ora, só é contra aquele que é extremista, intolerante e sectário. Temos deles de todas as matizes e em todos os cantos.

Acho que ele começou desviando o foco da questão. A questão não é ser contra ou a favor da religião e gostaria que ele apresentasse uma discussão sobre a laicidade do Estado. Não faz.

Quando direciona a questão para a “fé evangélica” e o “medo”, o “perigo” e a “ameaça” pode estar reverberando o sentimento que se tem hoje dos excessos cometidos por uma parcela significativa de líderes religiosos evangélicos, ,mais especificamente os líderes neopentecostais que estão sempre na midia com escândalos, abusos, etc.

Lembro-me que na infância eu morava em BH, perto da Igreja Batista, da Igreja Metodista e seus fieis representavam muito respeito e dignidade.

Lembro ainda que no princípio do meu casamento (44 anos…) tínhamos predileção por prestadores de serviços evangélicos pois sempre passavam a certeza de honestidade, ética, etc.

Ai surgiram as IURDs, Assembleias de Deus e suas derivações… E deu no que deu.

As atribulações sociais e econômicas levou esse povo brasileiro sofrido para os braços de oportunistas que se apresentaram como salvadores. Importante salientar que “esse tipo moreno” que o Guzzo fala retrata a maior parte dos brasileiros (IBGE declara em seu último censo que somos mais da metade da população, “não brancos”) e essa maioria sofre mais e é mais desesperançada e busca mais as soluções mágicas oferecidas pelos espertalhões, sejam pastores, padres, pais de santos, rabinos, etc, etc, etc.

O brasileiro em sua esmagadora maioria não sabe se cuidar e escolher seus representantes. Falta educação, cultura, cidadania, conhecimento de seus direitos e até mesmo de suas obrigações e… terceirizou suas demandas para quem oferecesse algo, mesmo que quimeras ou irrealidades. E foram (e são) abusados…

Os espertos aproveitaram seus instrumentos e ferramentas mais baratos e mais à mão: a “palavra”, a “fé”, a “promessa”… a manipulação.

Criou-se os grupos de pressão. “Bancada Evangélica” é um dos mais atuantes. E estão em busca do poder político com sanha assassina e sanguinária. Não importam o que tiverem que fazer, farão.

A legislação criada e cuidada por eles multiplica a todo tempo suas vantagens e poderes. Usam de tudo e inescrupulosamente.

Neste momento o “pastor” Crivella, num arremedo de prefeito do Rio impõe solertemente suas vontades e intenções ‘pastorais’ em tudo. Agora a Guarda Municipal da cidade tem uma ‘pesquisa social’ sobre o corpo policial que pergunta “Qual a sua religião?” “Qual igreja frequenta?” Pode isso? Claro que não. O Estado é laico e isso não interessa a ele.

Introduziu um ‘culto’ entre os funcionários da Prefeitura, na hora do almoço, até constragendo os não ‘fieis’...

Em 2014 foi feito todo um estudo geopolítico da região do Complexo da Maré gerando mapas de ruas para facilitar entregas etc. Gastou-se um bom dinheiro de impostos e dos moradores para se adequar aos novos endereçamentos (lojas, etc).

O pastor (prefeito?) numa canetada, nesta semana ‘resolveu’ trocar o nome de 42 ruas dando-lhes significados ‘bíblicos”, tipo Ressureição, Eden, Adoração, Perdão, Arrebatamento, etc.

A tal “Bancada Evangélica” cuida em peso de manter suas regalias, isenção de impostos para igrejas, doações especiais para essas entidades, perdão de dívidas, etc. E o cidadão, no todo, paga essas benesses desses abusadores com sangue, suor e lágrimas, mesmo sem ter fé.

A interferência nas relações sociais, familiares e pessoais do cidadão também é feita por esses indivíduos.

Estou focando na tal “Força Evangélica” por ser ela objeto de análise do Guzzo mas me remeto a todo tipo de manipulação religiosa de todos os tempos. Nasci e me criei em família católica. A medida que fui me conscientizando do todo fui me afastando da igreja e das religiões. Em viagens que faço fico horrorizado e insultado com a riqueza das igrejas e catedrais católicas que são atrações turísticas pela riqueza que apresentam e eu me vejo imaginando quantos não sofreram de todas as formas para esse despautério. Hoje isso se repete nas milhares de igrejas evangélicas por todo canto.

E esse poder faz com que interfiram na vida das pessoas. Condenam suas maneiras de viver, relacionar, agir e VIVER no mundo atual.

Suas manipulações ‘autorizam’ seus ‘legisladores’ criar situações, verdadeiras armadilhas que tornam seus seguidores reféns da vontade espúria de seus líderes.

Como diz o Guzzo no artigo:

“Há muita indignação, também, com a escroqueria aberta, comprovada e impune que é praticada há anos em tantos cultos evangélicos espalhados pelo Brasil afora. É um problema real. Pastores, bispos e outros peixes graúdos tomam dinheiro dos fiéis, sob a forma de donativos, em troca de ofertas a que obviamente não podem atender: desaparecimento de dívidas, expulsão de demônios, cura de doenças, enriquecimento rápido, eliminação do alcoolismo, dependência de drogas e outros vícios — enfim, qualquer milagre que possa ser negociado. Diversas igrejas se transformaram em organizações milionárias, e muitos dos seus líderes são charlatães notórios — alguns deles, aliás, já chegaram a ser presos por delitos variados em viagens ao exterior. Estão acima do Código Penal e da Lei das Contravenções em matéria de fraude, trapaça e quaisquer outras formas de estelionato que seus advogados consigam descrever como atividade religiosa; não podem ser investigados ou processados por enganar o público, pois são protegidos pela liberdade de culto. São o joio no meio do trigo, e há tanto joio nas igrejas evangélicas que fica difícil, muitas vezes, achar o trigo.”

Colocaram-se como os outros escroques do poste, que ele fala. E tem validado isso tudo pela ignorância, “boa fé”, postura “bovina” dos seguidores e em prejuízo de toda a população.

Ele finaliza dizendo que os evangélicos seriam um problema incômodo.

Eu discordo. Incômodo é o estado lastimável de ignorância e falta de educação para esse povo. Seria um trabalho hercúleo de educação/civilização e de longo prazo para sanar estas questões todas: religião, preconceitos, racismo, sexismo, desonestidade, etc, etc, etc…

E quando falamos de coisas ruins e que perduram sempre pensamos em termos de seitas & religiões."