A samaritana e seus maridos

A SAMARITANA E SEUS MARIDOS

Antônio Mesquita Galvão

Vamos realizar um pequeno exercício de exegese sobre um texto bíblico, o diálogo de Jesus com a mulher da Samaria (cf. Jo 5, 4-30). Desse contexto, vamos pinçar o tópico que fala dos “maridos” da samaritana. Curiosamente é para a mulher, talvez uma das pessoas (ou a própria nação) mais sofridas, por causa das guerras e invasões, que Jesus se manifesta integralmente como o Salvador. É nesse diálogo que se nota que o sinal messiânico de Jesus não tarda a chegar.

Jesus lhe disse: “Vai chamar teu marido e volta aqui!” A mulher respondeu “Eu não tenho marido!” Jesus disse: Respondeste bem ´não tenho marido´. De fato tiveste cinco e aquele que agora tens não é teu marido, nisto disseste a verdade” “Senhor – disse a mulher – vejo que és um profeta” (vv. 16-19).

Vamos analisar este trecho pela última frase do Senhor: “Disse a mulher, vejo que és um profeta”. Ele revelou algo que era bem profundo na vida daquela mulher: tivera cinco e aquele que agora estava com ela não era seu marido. Correntes mais modernas da exegese enxergam nos tantos maridos, mais do que transgressões morais, mas uma forma exacerbada de idolatria, Tanto assim que Israel, o Reino do Norte, cuja capital era Samaria, pelos deslizes religiosos enunciados, chegou a ser chamada de “esposa infiel de Deus” (cf. Jr 3,20). Por se tratar de uma ciência, a exegese se forma a partir de uma consciência universal, onde a opinião é geral, a partir das teses dos exegetas.

A maioria dos biblistas apropria que os cinco maridos passados podem representar não cinco homens que possuíram a samaritana, mas cinco deuses (cf. 2Rs 17,30) ou práticas de idolatria , representadas por cinco culturas (egípcios, gregos, assírios, caldeus e filisteus) que dominaram a Samaria por três séculos, impondo-lhe seus costumes, culturas e religiões.

Quem era o atual marido, o sexto? Dentro do contexto acima, a pergunta parece fácil de responder. A dominação no tempo de Jesus era, em toda a Palestina, exercida pelos romanos. Também os conquistadores vindos da Itália impunham uma adesão incondicional aos seus deuses, especialmente ao imperador. Uma religião idolátrica era como um “marido”: ... e aquele que agora tens não é teu marido (v. 18). Na verdade os deuses pagãos impostos pelo imperialismo dos conquistadores de todos os tempos, não eram dignos de adoração por parte do povo, mas sim Javé, o Deus Único. Os romanos comiam carne de porco. Como estes eram considerados animais impuros pelos judeus, os conquistadores mantinham seus chiqueiros longe de Jerusalém, exatamente na região baixa da Samaria.