Tudo bem sim

Não era fácil ver um mundo cheio de julgamentos. Ninguém sabia o quanto eu me identificava em cada palavra maldosa. Depressão não existe. É uma chateação passageira. Se sente sozinha? Mas ela não é rodeada de amigos? Mas ela não sai todo fim de semana? Ta chorando atoa. É drama. É mimimi. É exagero. Era muita coisa, menos algo pras outras pessoas darem importância. Ninguém entendia o que passava dentro de mim de tempos em tempos. Na verdade eles nem sabiam que se passava alguma coisa. E como poderiam saber? Eu nunca consegui me abrir de verdade pra ninguém. Eu sempre tive que me conformar com a única pessoa que eu tinha, com a única pessoa que eu confiava tudo o que eu realmente sentia. Eu me conformei de ter apenas a mim. Não por não ter mais ninguém, mas é que sempre foi vergonhoso demais admitir que eu precisava de ajuda. Algumas pessoas sabiam de uma parte ou outra, mas ninguém sabia do todo e quando poucas vezes me perguntaram se estava tudo bem, eu respondia que sim e me calava. Mal sabiam eles, que quando eu me calava, era quando eu mais gritava por socorro. Quando eu me calava, eu implorava por ajuda, por uma palavra reconfortante ou um abraço amigo. Aquela angústia, aquela tristeza, aquela dor e todo aquele sofrimento eram restritos apenas a mim. Eles são restritos apenas a mim. E se agora me perguntarem se está tudo bem, eu apenas responderei que sim.