Sil

De que medo a gente fala quando não se fala?

Nosso silêncio carregado não é espaço vazio, amor, ao contrário.

Sabe que eu fujo de um medo meu quando me aproximo de você, né? Mas ao mesmo tempo, sabemos que esse andar junto é também andar por cima, e quem anda por cima do que muda? Quicksand. A gente acaba sufocado, sufocando.

Te conhecer (e nesse mérito, conhecer qualquer pessoa, em maior ou menor grau) é caminhar descalço por entre árvores de frutos diversos, lindos, gostosos, médios, podres, aparentemente lindos e amargos, ou aparentemente feios e doces.

É caminhar descalço e vendado. É bater nas árvores e pisar em espinhos, é deitar na relva, é seguir os cheiros das plantas, dos teus cabelos, do teu suor se tornando nosso. E ter por guia tua voz, tuas reações, o que você aponta, o que você esconde e o que faz ou deixa de fazer.

É ouvir com respeito ou tropeçar, e às vezes tropeçar mesmo ouvindo.

Às vezes eu sou convidado a ficar quietinho, ausente. Seu pomar fecha para manutenção, né amor?

Você precisa dar descanso ao solo pisado, precisa podar a relva, regar as bromélias, ou simplesmente aproveitar o que você plantou. Pegar caminhos novos e se construir de novo.

E principalmente, talvez, manter vivo e fértil esse solo que você, com esforço, me permite pisar.

Eu queria que no meio dessas plantas todas eu pudesse criar raiz. Mas não sou planta, amor. Sou pessoa humana, de braços, mãos, pés, amor, dor, bobeira e sorriso. E sendo pessoa, sabendo quem sou, tentando saber quem você é, respeito tua terra viva, teu jardim de sentidos e teu espacinho. Que se eu for entrar, que seja pra fertilizar. Que se eu for deixar marcas, que sejam pra arejar o solo. Desculpa pelos golpes de enxada que partiram raízes. Elas vão se regenerar, e a enxada vai enferrujar sem uso. Vamos crescer selvagens em nossos jardins, e todos os frutos que não conheceremos vão crescer, tomar forma, mudar e morrer cada vez mais fortes, e cada vez mais resguardados dos nossos golpes.

Nosso amor frutifica, não é preciso conhecer para sentir, e nem entender para respeitar.

iKuartz
Enviado por iKuartz em 13/12/2017
Código do texto: T6198251
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