Carta 24

Hoje observei a vida num espelho, a alma presa num corpo de mulher me observava determinada, tinha um olhar translucido.

O tempo estava estampado na pele com marcas visíveis a olhos nus, quem mais poderia saber decifrar cada momento ali tatuado, senão o meu olhar decidido a percorrer cada veio que as lagrimas abriram com o tempo?
O véu em cima da cabeça já é um cabelo sem cor definida, pede para ser branco e cresce invalidando as mechas pintadas.
Ainda saborosa a boca suplica beijos que a faça sentir desejada, abre um sorriso branco com sabor desafiante a açular quem o observa.
Minhas mãos ainda firmes alisa o rosto com um carinho que é diário, já aprendi a me amar, lavando possíveis manchas de uma noite sem destino. Acordar com a face suada me dá a sensação que desafiei os portais do tempo e fui ao encontro de alguém que me fez feliz na madrugada. Os sonhos deixam evidencias na pele, só quem sonha sabe da necessidade de apagar o caminho que a alma faz em secreto.
Hoje massageei o eco com versos para a idade, ainda vou costurar os detalhes do dia como quem acredita que o tapete de retalhos de momentos vão ser mais uteis no final da vida. Posso precisar estende-lo ao longo do caminho, para relembrar quem sou antes de ir cantar a vitória no céu.
Hoje sinceramente acordei cansada, pensei em como seria bom permanecer na cama o dia todo, mas a vida ainda me chama, me dá cores e fios para fiar indo e vindo num bordado sem fim. Somente por isto vim aqui fiando neste caminho que faço com gosto, ele faz parte do meu bordado.
Gosto de saber que alguém ainda presta atenção no que escrevo, penso que deixo um fio de ouro, que vai servi como desafio para alguém me seguir um dia. Tenho versos que ecoam e chamo de EcoSys, um legado bem bolado para quem um dia olhar no espelho e conseguir enxergar a alma translucida, mas dizendo que ainda é tempo de viver.