Ao jovem rapaz que me mandou flores e afogou-se em amores

______________________________________________(17/04/2018)

Deste dia em diante, sinto em lhe informa as memórias póstumas de uma primorosa amizade. Enviou-me flores e uma carta cheia de mimos. Descreveu-me seus sentimentos e sonhos, sua perspectiva de vida perfeita e, por então, tornei-me seu entrave. Incorporei-me vilã por não consagrar seu evangelho. Antagonista na negociação da felicidade à carne e unha. A peça errada para o quebra-cabeças de maior beleza resolvida. Culpada pelo erro de massacrar seus sonhos e fazê-lo desacreditar no amor.

Submeteu-me imagens belas, como chegar em casa e encher-me de presentes. Proteger-me de qualquer mal que o mundo pudesse me ofertar. Esforçar-se ao máximo para tornar as coisas fáceis para eu conquistar. Dar-me a criança mais linda que o mundo pudesse admirar, pois seria uma imagem e semelhança de minha suspeita beleza. Disponibilizar-me-ia uma estabilidade de assegurar tremores de magnitude 10 na Escala Richter. Cumpriria qualquer circunscrito desejo que eu pudera vir a ter.

Entretanto, o ensaio desta vida fora unilateral. Senti-me sendo contratada para viver a seu lado. E, apesar de que eram muito divertidos nossos improvisos nas ruas, senti a falta do meu eu nesse mundo literário pseudo-feliz. Não houve sentar à mesa e concordar no inventar nosso dia a dia. Lembrei-me de quando brincava de bonecas, e senti-me mal por não questionar se a ursa realmente queria beijar o coelho. Compreendi ali que fui cúmplice em uma ação de assédio.

Ele não entendeu que não era sua pessoa o problema, mas sim a forma oferecida e o tempo da proposta. Me jogou uma bomba que alteraria toda minha concepção beta de viver. Não estava preparada para modificar minha recém maneira de ser, abrir mão de certas liberdades e me focar em outras. Havia tão pouco tempo que conquistei vitória em uma guerra de anos para com a minha independência. E, ainda, me indignava não ter participado da reunião de planejamento para a futura felicidade minha. Ele fora afogado pelo próprio dilúvio.

Contudo, sinto em ter perdido esta agradável amizade, entretanto, sinto-me aliviada em ter provado essa pretensiosa realidade. Se o planejado era esforçar-se ao máximo para deixar-me feliz, falhou no primeiro pedido para tentar entender que o que eu precisava era apenas de um amigo que me distraísse dos problemas da vida, pois, sozinha, tinha de resolvê-los para encontrar meus próprios limites; e um tempo esperar para que eu pudesse sentir-me a vontade a aceitar alguém no meu recém mobiliado universo.

Atenciosamente, Clara Nuvens.