Te amava calada

Posto que é chama, as vezes me ardo na cama. E me sufoca os pensamentos que me jogam no túnel do tempo e numa série de questionamentos me ponho a recordar. Precisando desabafar, levanto-me (mas uma vez, mas dessa não para amamentar!). E ponho-me a “estourar” nessas palavras que escrevo.

SINTO A SUA FALTA.

Lamento por estar tão distante.

Dentro de mim está viva e presente com tanta vivacidade, que me estremeço e sinto seu sorriso e seu humor latejante.

Sinto a sua falta e vários sintomas que herdei de ti.

Nunca esqueço o dia que lhe vi pela primeira vez. E quando nos aproximamos e nos enfrentamos com nossos humores. E quando nos chegamos e aprendemos uma sobre a outra. E começamos a nos influenciar. Primeiro eu por você. Depois você por mim. Em seguida “ambas as duas”.

Eu te amava calada. Jamais lhe falava nada. Somente ficava perto e a admirava. Guardava meus sentimentos nos recônditos do coração.

Você passou por “poucas e boas” e eu desejei estar perto para te apoiar. Fiquei o quanto pude.

Você se mudou para e em dado momento fomos morar juntas. E foi tudo tão incrivelmente rápido e intenso de acontecimentos que nem dá para entender o que aconteceu direito.

Na memória há um picotado de cenas. Mas o mais forte são as lembranças dos meus sentimentos: de felicidade pelo encontro e recíproca, de admiração por alguém que é “super tudo de bom” para mim e da dor pela partida, por não conseguir lhe acompanhar. De vê-la partir para uma nova história com o um novo companheiro.

Nova distância. Novos ares. Novas mudanças: o tempo passa, a gente muda e não percebemos.

Mas e os sentimentos? Em mim e em ti criaram morada. Fixaram residência e mostraram que, apesar da frenética corrida vida e distância cotidiana, muito próximo nós estávamos no desejo de estar perto, na saudade e na falta que uma fazia a outra.

Meu momento? Eu isolada num alojamento. Você mudando de vida e de estilo, passando a torcer pro futebol, cortando cabelos, mudando de roupas, brilhando, brilhando. Você seguia a sua vida, as vezes vinha e se afastava: trabalhava, trabalhava e atordoava-se.

Decidi casar. Construir família. Um lar. Os seus exemplos sempre me guiaram. Em dado momento aprendi com você (no que falava ou fazia, não sei!). Era necessário construir e sozinha não era possível (disse-me isso um dia!!!! )

Como eu precisava definir as coisas com os meus, chegava a hora do tudo ou nada. Foi então minha vez: ter uma casa.

A casa me trouxe coisas: o afastamento da faculdade e o adeus a tudo aquilo que não fiz, do que fiz e do que não tive coragem para fazer ( muitas coisas das quais idealizava e sonhava, eu sempre sentindo-me influenciada pelo o que você insistentemente me falava do quanto eu deveria aproveitar a vida).

Essa ruptura me trouxe várias sensibilidades: sensação de isolamento; pânico do transito; medo da rua; do barulho dos carros. Tudo o que eu queria era ter coragem para ir atrás de você para o mato.

Você corajosamente foi. E ainda por cima, convenceu seu companheiro. Vocês se transformaram juntos e isso é uma coisa linda de se ver.

Claro. Nós também nos transformamos, mas como eu a idealizo (a sua vida, as suas coisas, tudo parece ser tão mais legal e melhor!) nunca consigo enxergar meus louros, ou viver tão feliz quanto pareço.

Em dado momento a menina que sempre discursou não querer ter filhos começa a olhar carinhosamente para um sobrinho que se aproxima. E pelas circunstâncias de sogro e de sogra, e de desejo do companheiro, decidi por fim parar de tomar remédio.

Pois-me em dúvida de meus motivos quando questionava minha motivações.... Mas eu tonta em mim mesma segui.....

O tempo passou... E veio a notícia da possível inviabilidade. Nossa! Pensei. Igual a ti. Que dor sentir? Engolir a frustração e buscar uma solução. Talvez um dia uma adoção? Provavelmente. Mas o tempo correu e o improvável aconteceu. E soube disso um dia depois de você ter me anunciado a sua gravidez: encontramo-nos a tarde numa fila para ingressos de um jogo e me falara que recebeste a carta para o seu rebento chegar. Disseste para que eu apurasse, para que fossemos mães juntas etc e tal.

Bem... não sei mais o que aconteceu sobre esse assunto. Eu só sei que lhe escolhi como madrinha e que foi calorosa a recepção. Alegrava-me quando ligava. Mas o ano passou breve e você com tantas coisas e afazeres: os exames, as operações, o colégio, seus altos e baixos que ficava sabendo quando tudo já tinha passado.

A gravidez foi bom mais também não foi fácil. Altos e baixos também. Ansiedade. Insônias. Mas como não tem remédio fiquei remediada. Resignada ao enfrentamento do que estava por vir, claro.

Agora o rebento rebentou. E tudo o mais que aconteceu deixou bastantes seqüelas. Sim, sim. Estou feliz. A maternidade é “maravilhosa”. Mas cada um sabe a dor e a delícia de ser que ė, de ter e de se estar onde se estar. Cada dia é um dia e todas as noites são picotadas.

O cansaço é crônico. Mas vão mudando as etapas e a única palavra que me vem para traduzir é desafio.

Mas o que é a vida senão um desafio constante independente de termos ou não a maternidade?

Bem. Hoje sou uma pessoa mais atormentada pelo medo e sinto falta de uma fé. Ainda tenho dúvidas de que rumo tomar, mas vou seguindo procurando viver bem, o mais possível. Mas sinceramente: SINTO A SUA FALTA. Todavia eu entendo e respeito seu distanciamento.

EU LAMENTO.

Quero lhe dizer que te amo do fundo do meu coração. Que a admiro, pelos motivos daquilo que não tenho, por aquilo que não posso fazer e pelo que eu idealizo em você.

Precisava dizer!

5:44 da manhã

20 de julho de 2009-07-20

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PARASI