Pai,

Não foi você quem engravidou minha mãe e a largou poucos anos depois com uma péssima reputação e uma criança pequena nos braços. Não foi você quem descuidou tantas vezes da minha pensão e colocou a culpa na sua atual mulher. Não foi você quem se acovardou e me pediu perdão de olhos fechados e repletos de lágrimas. Não foi você quem tirou minha saúde mental e me deu em troca uma série de infundadas paranóias e medos do que está do lado de fora. Não foi você.

Porque por mais que você tenha vindo depois do primeiro pai, aquele que me incutiu à força no ventre da minha mãe, você agiu como o primeiro pai deveria ter agido. Você resgatou minha cabeça medrosa e o coração despedaçado da minha mãe e nos deu de presente a confiança. Você nos ensinou que viver pode ser bonito depois do trauma.

Hoje eu não choro mais de raiva e ódio por passar todos os doze de agosto enfiada no meu quarto sem saber o que fazer. Hoje eu sei que posso te abraçar e te desejar feliz dia dos pais quando meu coração pedir. E ele pediu, e ele pede. Eu posso não ter o seu sangue. Mas a sua alma certamente se parece com a minha.