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UMA PARTE DE MIM
 
     Quando na minha juventude, no auge dos meus vinte anos, moça romântica , sonhadora... Nessa época eu cursava escola técnica,  fazia técnica em edificações, só bem mais tarde  cursei faculdade de  arquitetura e urbanismo.
Na escola, dentre vários colegas, um se apaixonou por mim, Mauro Acioli Lins, mas ele só teve coragem de se declarar no término do curso de  dois anos. Ao me falar namoro, de início respondi que não, pois até então eu só o via como um colega, um amigo querido.   Ele não ficou convencido da minha resposta e, com uma semana depois, insistiu; então desta feita   aceitei. Após  um ano de namoro,  noivamos. No período do noivado, que durou 3 anos até a gente casar, ele passou um tempo em Paulo Afonso - BA, e eu permaneci em Recife. Àquela época, há 40 anos, não existia, pelo menos não tão popularizado como hoje, essas modernidades da internet, como redes sociais, whatsapp... Essas coisas. 

As correspondências eram, na  maioria  dos casos, escritas à mão ou enviava-se telegrama. Mauro, todos os dias escrevia uma carta pra mim. Todos os dias eu recebia uma carta dele pelos correios. Só aos domingos não chegava, mas nas segundas-feiras eu recebia duas, que era a do domingo mais a da segunda; e eu, todos os dias, respondia às cartas que recebia. Eu achava tão lindo, tão romântico... Comprava, nas livrarias, uns papéis de carta, tendo o cuidado de escolher os mais bonitinhos, com os envelopes combinando com a folha e tudo mais, pra responder as cartas dele, escrita à mão!  Antes de fechar o envelope, pra levar aos correios, eu pingava umas gotinhas do meu perfume na carta, pra chegar até ele o meu cheiro e passava batom e beijava o papel, ficando ali, através do batom, a impressão da minha boca. Acho que hoje pouquíssimas pessoas fazem isso, se é que ainda exista, quem faça. Atualmente, com o avanço da tecnologia, a ousadia não tem freio.
 Escuto os mais jovens comentarem que agora é um tal de mandar nude por celular e outras coisas mais avançadas ainda. Onde é que mora romantismo aí? Será que sou eu que estou ultrapassada e não vejo que  o romantismo evoluiu??

Após alguns  meses na Bahia, Mauro voltou a Recife e nos casamos. Depois de um ano de casada veio a primeira filha, Monalisa, enchendo nossas vidas de alegria, minha primogênita e primeira neta -hoje já formada pela federal como assistente social; depois de quase dois anos, Mauro recebeu uma ótima proposta para um outro emprego, com mais estabilidade; eu trabalhava como desenhista numa empresa de engenharia. Com a vida financeira melhorada, planejamos engravidar novamente, e veio a segunda filha, Monique, a caçulinha linda que completou nossa  família, - hoje formada em direito pela federal.                                       
Com 6 anos de casada, fui acometida por um câncer de tireoide. Foi um momento de muita dor e tristeza para Mauro e toda minha família. Mauro ficou tão abalado com a notícia, que foi necessário fazer terapia com a psicóloga do trabalho dele; ele chegou a dizer, em conversa com Deus, que se algum de nós dois tivesse que ir embora, naquele momento, que fosse ele, pois nossas filhas precisariam mais da mãe do que dele. E começou o meu tratamento...                                           

Depois de duas cirurgias, fui submetida ao iodoterapia-131. Ficando 5 dias isolada num quarto de hospital sem poder ter contato com ninguém; até as roupas e objetos que usei, nesse período, no hospital, ficaram lá pra serem incinerados. Meu corpo ficou emitindo  radiação pelos poros por alguns dias. Depois disso voltei a fazer novos exames e o resultado foi muito satisfatório, havia ficado curada! Era uma época próxima ao natal; lembro-me meu pai dizendo, quando soube do resultado, que ia ser o melhor natal da vida dele. E foi muita alegria nesse dia. Voltamos à vida normal. 

Após quatro anos da minha cura, Mauro, aos 34 anos de idade, sofreu um infarto agudo do miocárdio e o pedido dele se fez cumprir... Ele morreu. No próximo mês, dia 12 de fevereiro, vai completar 26 anos que ele partiu pra outra dimensão, ficando as filhotas para sua continuação e sua lembrança  em nosso coração.
Joselita Alves Lins
Enviado por Joselita Alves Lins em 29/01/2019
Reeditado em 08/08/2020
Código do texto: T6562255
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