Carta aberta à Academia Brasileira de Letras

CARTA ABERTA À ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS
Miguel Carqueija

Aos “imortais” da Academia Brasileira de Letras:

Salvo engano de minha parte, vocês estão em grave e prolongada omissão no que se refere à defesa de nosso idioma, hoje tão vilipendiado que é difícil até saber por onde começar na exposição dos fatos.
Tanto na linguagem coloquial como na midiática e na linguagem escrita as distorções se multiplicam “ad infinitum” e até adquirem foros de cidadania. Palavrões, estrangeirismos gírias, “internetês” e desleixos, erros crassos até em livros impressos (onde às vezes até consta revisão) e tudo isso em escala torrencial como veremos, e perante o solene silêncio da ABL.
Parece mesmo que ninguém mais sabe utilizar o verbo “estar”. Até na televisão todo mundo fica em “tô”, “tá”, “tamos”, “tava” — inclusive pessoas supostamente cultas. Trocam “esposa” por “mulher” e os pronomes “seu” e “sua” são substituídos por “dele” e “dela”.
Os estrangeirismos, da culinária à informática, são onipresentes: “mouse”, “e-mail”, “site”, “hamburguer”, “self-service”, “impeachment”, “link”, “cheeseburguer”, “pizza”, “tsunami” e por aí afora, sem que se ouça uma voz de protesto.
O “internetês” concentra-se na abreviação: “você” virou “vc” e, se isso é válido em simples mensagens onde a economia de tempo conta, o que dizer desse hábito em artigos, poemas, ou seja em textos permanentes? E esse insuportável “bora”?
Pessoas que não se dão ao trabalho de ler bons livros e consultar o dicionário cometem erros crassos, confundindo “mas” com “mais”, “iminente” com “eminente”, grafam “exitar” querendo dizer “hesitar” etc.
Isso, é claro, sem falar na linguagem chula, geralmente agressiva.
Por que razão, senhoras e senhores da Academia, esta solene e vetusta instituição não se manifesta sobre o assunto? Por que, apesar de muitos de seus membros assinarem romances sociais, vocês se mantém afastados do povo?

Rio de Janeiro, 29 de janeiro de 2019.