Sem Reviravolta

O dia começou animado, acordei rápido mesmo tendo dormido tarde, esperei as visitas saírem do banheiro e logo estava no banho, hoje eu iria a ver, matar as saudades, abraçar ela com a força da minha saudade, saí de casa bem rápido, não queria nada me prendendo em casa e logo estava na rua.

Eu estava na estação do Jaraguá, e me sentei ali perto, e esperei, ela estava tomando o café da manhã, demorou um pouco pra descer, mas, notei que havia algo diferente no seu olhar, até o seu abraço estava diferente, mas achei normal, mas não deixei de notar, ela estava desatenta, olhava para o celular frequentemente, preocupada, foi quando veio o primeiro pensamento, “Não é o seu dia Carlos…”

Meu ânimo cessou, meu humor cessou, eu só tinha o ânimo do passeio, mas continuei caminhando, sorri algumas vezes, mas já estava sofrendo desde ali, não haveria voltas e reviravoltas, eu apenas já tinha percebido todos os sinais e não eram apenas daquele dia.

Eu respirei bem fundo e não segurei aquele fluxo, deixei a água correr a minha volta, para ser consumido igual a uma pedra pela corredeira mais forte, bom, eu era a pedra no caminho no final das contas.

Fiz o dia ser bom, na medida do possível, chegamos e andamos pelas trilhas do parque, observamos o lago onde atirei algumas pedras, lagos são apenas rios interrompidos, existem pessoas assim, que apenas retiveram tudo para sim em seu interior e esqueceram de fluir e eu estourei todas as minhas barragens e arrastei tudo, era preciso.

Deitamos embaixo de uma árvore a qual a casca parecia uma massa folhada, foi no momento que ela me disse, era o que eu queria ouvir, de certa forma, era o que ela queria, a sua simples escolha, algo que foi supostamente subtraído da sua vida mas estava apenas lá, onde eu disse que estava, ela só precisava agarrar aquilo e trazer de volta a seu devido lugar, e foi assim que ela fez, eu tive esperanças, mas, eu não poderia, não poderia dar nenhum tipo de estímulo a mais, não naquela hora, precisava ouvir a sua resposta, olhar em seus olhos e ver a verdade, eu já sabia que seria assim, como eu já tinha aprendido, antes o tempo era um jogador formidável, acertou no único ponto que eu não me policiei a preparar para um impacto tão grande, senti meu coração doer como se tivesse sendo marcado com um ferro em brasa, como se estivesse sendo cortado vagarosamente, como se estivesse sendo espetado por várias lanças, eu precisei me manter de pé dentro da minha própria armadura, era insuportável, mas fui forte, cada palavra martelava a minha alma de uma forma violenta, mas tive que segurar a carga, ela ficaria com ele, e não, não condenei isso, eu não poderia de forma alguma a segurar.

Após aquilo, passamos o restante da tarde ali, olhei para longe para disfarçar a tristeza nos meus olhos, não conseguiria chorar por mais que minha alma implorasse, mas fiquei ali, acariciei o seu cabelo, conversamos, deitamos na grama, peguei ela no colo,ela deitou no meu peito até que adormeci, ri junto dela com o receio de ser a última vez, e logo após o dia estava acabando, a deixei no Jaraguá me sentei nos bancos da estação e fui pra casa a pé pela sinuosidade das curvas da antiga avenida, não tinha ninguém, então naquele pequeno fim de tarde pude me livrar da minha armadura e ser eu mesmo por alguns minutos.

Para meu céu cheio de estrelas e pequeno universo.

Carlos Igor (SrWarlock)
Enviado por Carlos Igor (SrWarlock) em 15/02/2019
Código do texto: T6575326
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