Casa vazia
A casa ficou quase vazia. Nela ecoava meus gritos entre soluços.
Rasguei declarações de amor, revirei gavetas e retirei todas as lembranças físicas entre lágrimas.
Memórias do nosso amor ficaram gravadas nas paredes e soavam como fantasmas a bailar no meio do nada.
Quis arrancar suas digitais do meu corpo e seu cheiro que ainda teimavam em estar em mim. Em vão.
Penetrei num abismo secreto e sem fim, num agonizante e sofrido processo de aceitação. Mas, não queria.
Tantas vezes engoli meu orgulho, num só trago, para que eu pudesse sentir, só mais uma vez, a quentura do seu corpo desnudo.
Noutras fingi esquecer sua deslealdade só para te ter perto de mim.
A casa ficou vazia. Vazia com meu vazio.
Tentei suplicar, prostrada a seus pés, para que ficasse até tudo se acalmar.
Prometi promessas em vão, promessas que nunca seriam cumpridas, porque já não havia jeito de se ajeitar.
Depois todo vazio foi preenchido com meus temores e incertezas que saltaram à minha frente sem ter como evitar.