Estranhos amores.

Não menti quando dizia te amar. Mas não era amor. Era apenas bem-querer. Sabia que quando dizias me amar, eram apenas palavras, que me faziam feliz. E tu sabias disso.

Atuávamos. Desejávamos amar, então criávamos, na vida real, papéis fictícios. Eu era a Julieta, a Rapunzel e tu, Romeu, o príncipe encantado, idealizado por mim.

Nossas promessas e juras de amor não passavam de palavras frias, apaixonadas e ao mesmo tempo, indiferentes.

Ansiava pelo momento, na noite, em que nossos encontros aconteciam, sabendo que o tempo era curto, pois sempre havia outras a serem atendidas em suas angústias emocionais.

Minha consciência me acusava quando dizia te amar. Chamava-me de mentirosa, ardilosa, cínica. Dizia-me que teu papel de sedutor, refletia também tua enorme carência e que te mentir, ainda que soubesses que era assim, fazia-te vítima também. Eu mantinha o teatro porque não queria que te afastasses. Preferia tuas brincadeiras conhecidas a me expor ao risco de recomeçar com outro ator.

Fingíamos com tamanha convicção, que acabamos acreditando nas próprias mentiras. Sofremos, nos magoamos, nos ressentimos e essa dor foi real. Dor duplamente real. Saber que havíamos brincado de amar e sermos amados e sabermos que acabado o encanto, voltaríamos ao nosso mundinho, com seu cotidiano, com sua rotina. Que as promessas cairiam no esquecimento, que outras pessoas viriam a ouvi-las e acreditar nelas, de mentirinha.

Foi necessário sofrer de verdade, para perceber a intensidade com que mentiras, mesmo ditas com a intenção de torná-las realidade, ferem, afetam nosso emocional.

Mas, ainda não sei quando deixamos de fingir, de mentir. Aqui, ou lá, somos iguais. Criamos uma imagem, alimentamo-la e acreditamos que ela é real. As máscaras, infalivelmente, um dia descolam, caem. Novas dores nos esperam. Quando deixarmos de mentir a nós mesmas.

19/09/2007