como era tão tu?
lembrei de tu sorrindo naquele quarto escuro
a chuva cai aqui
desejo que pudesse voltar pra aquele setembro
sinto tanto tua falta
mas não sei se é de ti
ou da silhueta que eu inventei do teu corpo inteiro
lembrei de tu sorrindo
e me tremi
as pernas, a visão e eu vi
o quão
impossível
fomos
nós
de como a gente só cabia naquele teu quarto escuro com luz vermelha
e o quanto a luz do sol
queimava
nós
mais rápido que um cigarro
e só sobrava o quão claro
era
nossa
distância
ainda que eu desse um jeito de te encostar durante o percurso
mas ali naquele quarto
os minutos paravam.
cada.
segundo.
era um infinito.
e você sorria, assim, de lado
e olhava de baixo pra cima,
alcançando meu rosto
sussurrava o alfabeto inteiro da única lingua que eu queria em mim
e ao bater da porta,
teu silêncio ecoava no fio do meu cabelo
na minha nuca
teu silêncio alcançava um volume tão alto
que apagava meu campo de visão inteiro
era tu, porra
desculpa o palavreado
mas como era tão tu?
se não era?
como eram tão tuas minha respiração tentando disfarçar porque tavas encostada no meu peito
se, nem de longe
era meu, teu tempo?
como era tão tu, ali dentro do quarto
se hoje
só sobrou de tu
um disco inteiro
um
dois
cento e sessenta e duas músicas
que falam de ti no enredo
a playlist chama teu nome
já que me recuso a chamar
já que não posso chamar
já que não vai escutar
como era tão tu, porra
se nunca foi?