O CALAR

Hoje, sinto que necessito vivenciar as palavras contidas dos sábios poetas, chamadas de silenciosas. Palavras jamais podadas, porém extremamente analisadas, pensadas, repensadas, algumas salvas, outras diluídas junto com a sapiência dos meus ídolos pensadores. Muitas, digeridas através de uma taça de vinho, um copo com água ou secamente, quase, fazendo-me engasgar com a saliva, porém, afogá-las é necessário, é preciso. Elas se processam em meu interior, mas não as deixo submergirem as superfícies da língua. Não arriscarei magoar-me, nem tampouco ferir-te, pois as palavras apressadas podem ferir quase que mortalmente os sonhos de uma alma. Melhor a minha distância, o meu silêncio, a ausência e, até mesmo a angústia que provoca o meu calar, que os intempestivos diálogos, levando-nos aos náufragos das decepções e mágoas. Deixe-me primeiramente revê-las dentro do meu lógico raciocínio exercitar a lucidez, a paciência, as abordagens, formatar cada expressão com cautela, respeito e responsabilidade para que não possa amanhã, transformá-las em lágrimas de arrependimento através do cruel remorso. Sei que não poderei ser uma extensão de ti, como também não o conheço, talvez, saiba algumas coisas a teu respeito, porém, não me atreveria a dizer-te que sei quem és, se inúmeras vezes, nem a mim reconheço-me. Difícil encarar nossa realidade e pior ainda, seria não encará-la, talvez para muitos, seria ainda mais complicado aceitar a linguagem do fim.

Teremos que ser maduros e reviver os momentos ternos que vivenciamos, assim como uma canção linda, que juntos ouvimos e, que dizíamos ser nosso hino. Digerir o sabor amargo das palavras, sempre será a atitude digna e sensata para partirmos sem sairmos arrastando as incabíveis correntes dos açoites sangrentos de monólogos vis, os riscos, rabiscos e borrões das impensadas frases.

O silêncio em determinados momentos é pertinente, possui a beleza da intuitiva sensibilidade se magnetiza no campo recôndito de nossa sensatez, quando utilizado adequadamente com doçura, sutileza e recato pode nos levar para os caminhos da luminosidade espiritual, onde teremos a oportunidade do reencontro especial conosco mesmo, com partes de nós que haviam se fragmentado, e, incrivelmente respiramos aliviados e, dizemos: eu me basto, estou outra vez, feliz e inteiro.

O silêncio, a solidão e a reflexão, são nossos professores, aqueles que nos ensinam as reconstruções de novos sonhos e objetivos, eles não atropelem estes instantes. Aproveitem para agarrarem as outras oportunidades e ao olharem para trás, agradeça as decepções e frustrações, elas também te deram a chance do conhecer a si próprio. Não lamuries, não lamentes as perdas, pois, o que antes era o teu maior desejo, amanhã se tornará algo sem tanta expressividade, pois tudo que nos subtraem, nunca será uma partilha, porém, um mero engano, apenas não estávamos preparados para admitirmos o fim.

TEREZA GUEDES
Enviado por TEREZA GUEDES em 17/04/2019
Código do texto: T6625731
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