Um sistema de muitas equações e muitas incógnitas (para uma amiga)

Querida amiga.

Conversavamos ontem pelo MSN e de repente você me colocou uma série de coisas que eu fico sempre a pensar até que ponto não estão certos

aqueles que abdicam de muita coisa nessa vida.

Viver não está fácil: é trabalho (ou a falta dele), é dinheiro (ou a falta dele), é afeto (ou a falta dele), sexo (ou a falta dele) e aí vai. Criamos a nossa infinita teia de carências e satisfações e, ao mesmo tempo, ficam "buzinando" na nossa cabeça: seja ético, tenha moral, seja feliz, não traia, não mate e por aí vai a longa relação dos "nãos" que acabamos por dizer "não" para nós mesmos e "sim" para o mundo.

A gente têm tanta ilusão, não é? Parece que sempre tem um novo jargão

para designar uma nova teoria acerca de algo que é mais velho do que a

própria humanidade, está entranhada na nossa carne, que faz latejar o

nosso desejo, nos faz procurar e procurar e procurar até ao menos achar que se encontrou. Quem é dono do nosso desejo e de nossa afetividade? Que escritura dá posse plenipotenciária de tais coisas?

Fico pensando nos meus 7 anos e já deu muito pano para manga. Decidi

não pensar mais em nada, seguir vivendo, tentando, observando, construindo. Acho que o mar não está para peixe, não comporta a utopia ou mesmo a ilusão amorosa. Há de se ter os pés no chão, a cabeça entre as nuvens e um certo senso de irresponsabilidade para topar a aventura de se

lançar aos braços de outra pessoa, sem medo.

Viver torna-se um sistema de muitas equações e muitas incógnitas que

deve-se resolver com bastante singeleza e sem elaborar teorias

mirabolantes, digo, novamente para fazer coisas simples, dar respostas

ao dia dia, ao feijão com arroz.

Deve-se também, ouvir muito o poeta, principalmente naquele trecho que

diz: "seja eterno enquanto dure". Talvez isso seja impossível, já que

insistamos no peso das nossas ilusões. O universo acaba conspirando

para que a gente tenha claro a urgência de viver o momento, de aproveitá-lo e não substimar o fato de que a vida é curta, seja ela

solitária ou à dois.

Na verde, há um tempo para reprocessar tudo o que aconteceu e criar um

novo conceito, uma nova realidade, um novo momento baseado na clara

concepção que não há nada de novo sobre o sol, tudo é um reciclar

eterno.

Viver, portanto, é olhar para as mesmas coisas com um carinho

diferente e fazer com que a esperança sempre renasça, esperança

baseada, muitas vezes, em nada.

Precisamos, também, nos contemplarmos com o direito à dúvida!

Duvidar-se das fórmulas, duvidar-se das certezas mas jamais duvidar do

valor de quem somos e do que construímos.

Talvez, ao menos nesse plano, não há quem possa nos julgar sobre o que

fizemos ou deixamos de fazer. O que podemos fazer por nós mesmos, é

reconhecer nossa humanidade e seguir em frente, sem medo, sem rancor

ou mágoa.

Talvez nem a gente mesmo saiba como somos fortes! Se não, cabe-nos

descobrir, AGORA!

Beijos do seu amigo.

André Vieira
Enviado por André Vieira em 25/09/2007
Reeditado em 25/09/2007
Código do texto: T667801