Sinto que ainda estou jovem.

Olá!

Hoje, por aqui, a tarde está com a cara do Paraná; Não está fazendo um frio dolorido, nem tampouco faz uma tarde quente. Não há sinais de chuva, mas também não é uma tarde ensolarada.

Os papéis, como sempre sobre minha mesa, papéis do meu trabalho, pepinos da minha vida profissional. Cada um deles representando uma história que envolve dinheiro, outras pessoas e o governo, como uma tríplice pepinal. Estou sentindo minha vida muito ocupada por conta disso. A maior parte do tempo em que estou acordado, passo dedicado à estes casos laborais.

Gostaria de contar, no entanto, que hoje pela manhã senti uma fisgada aguda nas costas. Sintoma que eu atribuo à minha péssima postura, até mesmo agora, enquanto vos escrevo. Por alguns instantes achei que tivesse ficado travado na posição em que estava.

Lembrei então de quantas vezes havia questionado a mim mesmo: "Quando é que você vai pedir uma cadeira nova? Essa está acabando com a sua coluna" - "Um dia eu falo com o patrão, por enquanto sinto que estou jovem, não vou ter um problema de coluna" - Respondia à mim mesmo.

E de repente, me peguei refletindo sobre todo meu atual estado físico e moral. Notei então que tenho contado essa mesma mentira branca para mim mesmo já há um bom tempo, em diversas situações.

Eu não deixei de beber excessivamente, pois me sinto muito jovem para ter esgotado meus limites de abuso alcoólico. Não deixei de fumar, alegando a mim mesmo ser muito jovem para morrer vítima de uma doença respiratória. Não deixei de sonhar em viver apenas da arte, ser guitarrista e ter uma banda famosa de Rock and Roll pois ainda me considero jovem pra isso. Não deixei de sair para caminhar nas manhãs de geada, me considerando jovem demais para ter a saúde prejudicada pela baixa temperatura.

Mas hoje, olhando pela janela do escritório, vi o quanto as coisas mudaram. O cartório velho não existe mais, foi derrubado e está dando lugar à um edifício de 12 andares. O abacateiro tão belo que existia no terreno, foi arrancado e os periquitos que antes vinham em família e faziam um salseiro danado já não mais aparecem por aqui. Tudo mudou.

Se, olhando pela janela, dá pra ver tantas mudanças, olhando para mim mesmo não é diferente. Cresci, e o encanto que eu tinha por folhas de papel quando pequeno passou, hoje folhas de papel me simbolizam problemas. Hoje as costas doem se eu não tiver boa postura. Hoje, quem é que paga meu dentista? Hoje andar de carro pra mim se tornou um "saco", nada melhor do que poder ir a pé. Hoje, se eu ultrapassar o limite com o álcool posso ser preso, ser morto, matar alguém, ou morrer aos poucos. Hoje me toquei, essa tosse quase crônica é do cigarro! E também estou entendendo que devo me agasalhar melhor e evitar o "vento de geada".

Chega a ser triste, mas essa fisgada nas costas hoje veio a me despertar para o fato de que talvez eu não seja mais tão jovem assim.

Essa carta eu escrevo à "não sei quem". Mas espero que quem a leia, possa usá-la na reflexão da conformidade do tempo e da vida.

Um grande abraço, seu amigo Morcego, Cigano, Rafhael, como queira... O tempo muda até mesmo nossos apelidos e identidade.

Rafhael Morcego Franco
Enviado por Rafhael Morcego Franco em 27/08/2019
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