MINHA CARA SENHORITA

Recanto das Letras, 27 de setembro de 2007

Minha cara senhorita,

Escrevo-te estas breves linhas para dar-te conta de minha indignação. Vossa senhoria chegou de mansinho, como quem não quer nada, e sem que eu percebesse se alojou no meu coração. Já vai fazer 5 meses que a senhorita ali reside e não paga aluguel. Da inadimplência não posso reclamar, haja vista que vem cuidando do local com tanto zelo e carinho, deixando tudo muito limpo e organizado. Nem parece mais o imóvel abandonado de antes, encoberto por teias de aranha e abarrotado de entulhos e quinquilharias diversas. Contudo, mesmo satisfeito com sua conduta, não posso deixar de externar meu inconformismo. Ocorre que de lá para cá (desde que adentrou no meu coração) venho sentindo algo estranho, uma sensação esquisita, de angústia, de falta, de melancolia, desassossego, que só ocorre quando a senhorita não está por perto. Em razão disto, solicito a vossa senhoria que nunca se afaste de mim, que se mantenha sempre ao meu lado, pois é triste a sua ausência, e insuportável a idéia de sua perda.

Respeitosamente,

Geovani Pereira de Mello

Seu humilde senhorio.