Querida esposa.

Querida esposa

Agora, neste minuto em que nossas almas se encostam pelo simples olhar. Neste sublime momento onde meu amor transborda sobre sua ternura e tu me corresponde de alma limpa. Neste momento onde reconhecemos em nós o amor mutuo.

Ouça o que tenho a dizer.

Perdoa-me pela insensatez que hei de cometer, ainda que não o saiba quando nem onde.

Sabes que o discernimento adormece e as debilidades se aproveitam para deixar suas marcas.

Nesta hora, hei de esquecer suas qualidades, sua amorosidade, sua divindade.

Hei de disparar o veneno do meu pequeno eu, cego ao real e seduzido pela ilusão.

Ainda que estejamos ambos curados dos grandes defeitos, meu amor, há tantos pequenos defeitos em mim que saltam quando perco a vigilância.

Perdoa-me, amor, porque justamente neste adormecimento, sentirei impulsos de fazer valer minha opinião;

Sim. Aquela mesma opinião que eu e você renunciamos varias vezes perante os sagrados axiomas : “só sei que nada sei.” “A verdade absoluta não é deste mundo.”

Esquecido do meu Eu divino, cederei ao impulso de me vingar de ti com o meu silêncio infantil. Por você não concordar ou validar minhas certezas tão ilusórias, estarei, como criança emburrada, encolhida e hostil.

Talvez a trate com menos gentileza que merece. Talvez teça críticas revestidas de pseudoverdades, própria de quem se conhece tão intimamente. Digo talvez, pois nunca sei o que esperar de uma criança adulta.

Cego para o divino que habita em mim e em ti, estarei propenso aos exageros na comida e nos lazeres.

Ferido em minha estima, verei minha alegria sangrar e escorrer pelos ralos, enquanto secretamente te odeie pelo simples fato de você me mandar apagar a luz, ou me pedir para eu ter mais cuidado com o nosso pequeno.

Nestes dias de fragilidade provavelmente sentirei-me ofendido quando me pedires para arrumar a cama ou abaixar o volume da TV. Débil em minha personalidade, tudo de ti virá como critica e alimentará meu desamor.

Antes que toda essa tempestade chegue, meu amor, tu que es a dignidade encarnada e a prova viva de que Deus me ama.

Aceite por favor o meu pedido de perdão.

Tu que amas o melhor de mim, tenha, por favor, compaixão desta outra parte, infantil e imatura. Em contra partida, dia após dia, comprometo-me a fazer o meu melhor para crescer e para me igualar a tua dignidade. Hoje melhor do que ontem. Amanhã melhor do que hoje.

De fato não nascemos pronto, mas nascemos capazes de crescer.

Convido-te a aproveitar este momento celeste em que celebramos nosso amor. Este momento fácil, sem tempestade, para nos preparar para o difícil.

Convido-te, neste altar de Deus pai que é o amor para que aprofundemos nossas convicções para quando a tempestade chegar.

Para que, assim, antes que a insensatez nos domine, possamos olhar para ela e dizer: cala-te, insensatez, pois nós sabemos quem somos e a que viemos:

Somos Almas de Deus e viemos amar.

Atenciosamente, seu marido.