O Chão Adormecido no Baú de Sonhos

Catalina Pages criou há trinta anos, o Círculo de Leituras, com alunos de escolas públicas. O chão adormecido no baú de sonhos é lido por esses alunos multiplicadores, com a presença de Catalina, em a casinha. Publico aqui, uma carta escrita a mim, por Catharine Shon, querida aluna multiplicadora:

Cara Eliane Fonseca

Antes de tudo gostaria de te parabenizar pelo seu trabalho, posso dizer que Chão Adormecido no Baú de Sonhos me causou preciosas emoções, e poder acompanhar a trajetória de Terezinha junto ao círculo foi uma experiência inestimável. Cada parte da história levou aos multiplicadores uma avalanche de reflexões e ideias, ao mesmo tempo em que juntos, fomos capazes de desfrutar dos mais doces momentos do conto.

Durante a leitura fui capaz de me identificar com Terezinha, e tenho certeza que meus companheiros de círculo também. Assim como ela, sinto a vontade de cuidar de meus pais, e sim, a palavra certa é vontade, pois para mim não é um sentimento de dever, nem de obrigação, e sim uma preocupação verdadeira que te dá a coragem para buscar o bem estar daqueles que você ama, mesmo que para isso, tenha que pular algumas pedras no caminho.

O grupo também ficou impressionado em como o conto conversa tão bem com as obras trabalhadas nas escolas e na casinha, agora temos novas perspectivas sobre os temas já discutidos por nós. Um deles está no capítulo Barrigada Forrada, esse tema nós carinhosamente chamamos de “a geladeira”; a analogia é a seguinte: existem momentos em que nós sentimos uma vontade inexplicável, mas não sabemos exatamente do que é, então vamos até a geladeira buscar algo que sacie nosso desejo; quando abrirmos-a, notamos que está repleta de comidas gostosas, mas então, ao olharmos para o interior da geladeira de novo, percebemos que não tem nada do que realmente queremos. Assim como Terezinha, que comia mais e mais, nunca preenchendo a vazio em si, nós procuramos e procuramos cadê vez mais na geladeira algo que nos sacie, mas nunca achamos. Quando Terezinha foi compreendida por Lucy, alimentou o seu espírito tão esfomeado por sentimento e conhecimento, e pode por fim apreciar a sensação de preenchimento e plenitude, nós vibramos e nos emocionamos, encantados com a epifania do momento.

Pessoalmente, acompanhar a trajetória de amadurecimento da garotinha foi realmente especial. Ao adquirir tantos ensinamentos e experiências ela se torna uma moça, assim como cada um de nós, que ganhamos tantas responsabilidades e deveres quando nos tornamos adultos; mas a diferença de Terezinha para muitos, é que a menina guardou com carinho a criança dentro de si, e nunca a deixou de lado, muito diferente inclusive do aviador de Pequeno Príncipe, que não foi compreendido quando menino e cresceu com essa frustação emperrada na memória, deixou toda a beleza da infância para trás, e como sabemos, precisou de muita ajuda para voltar a ser criança. Eu admiro Terezinha por isso, porque mesmo amadurecendo tão jovem, a menina nunca deixou de ser criança, e cresceu em seu tempo certo.

Em cada capítulo da obra, embora tão curta e simples, há uma magia que nos prende e nos instiga a continuar a jornada junto a Terezinha, ao final somos agraciados com um desfecho realmente bonito, e ao fechar o livro, terminamos com sábias lições para levarmos aos próximos círculos, e para todos ao nosso redor.

Poder trabalhar O Chão Adormecido no Baú de Sonhos será uma felicidade para nós multiplicadores, e um presente ainda maior para todos nossos jovens.

Atenciosamente,

Catharine Shon.