Dúvida

Case comigo.

Nos teus pensamentos, despose-me.

Deite-me na tua cama de lençóis macios,

de brancuras e perfumes.

Sinta a tranquilidade de uma vida levada por dois semelhantes

por dois velhos conhecidos que em uma esquina qualquer

em uma dobra inesperada do tempo

esbarraram no amor.

Abaixaram-se mutuamente para catar os cacos um do outro

e entre cortes profundos de vidro

tocaram-se as mãos.

Eu olho pro fundo dos teus olhos

e vejo maresia.

Vejo o azul do fundo do mar,

vejo cores de areia,

vejo as manchas das conchas

e a calmaria da paz que nós teríamos.

Vejo nós dois rindo

e rindo, até criar rugas dos dois lados da face.

A cada passo que você dá,

desde a maneira que puxa a cadeira

até o modo em que me encosta de leve,

cada movimento é uma descarga de energia.

É um susto bom. Uma surpresa inestimável

um sorriso aberto do destino.

Enquanto você não vem eu fico aqui.

Abraçada ao meu romance, queimando o céu da boca

com café amargo e forte.

Por quanto tempo?

Só Deus sabe.

Da minha boca que se retorce em riso

a toda vez que tu vens,

nenhuma palavra sobre o assunto será proferida.

Deixo para você a responsabilidade

do reconhecimento.

O querer reparar. O primeiro passo

da beira do precipício.

Se cair, me perdoa. Não lhe segurarei.

Eu já caí tantas vezes.

Já me esborrachei contra a grama,

já quebrei a cara no concreto.

E posso te garantir: vale a pena.

A dor da queda é intensa e rápida.

Dura o tempo de calcificar o óbvio.

A dúvida é o olhar de cima,

é o calcular a queda,

o temer a dor. A dúvida

dura o tempo necessário para criar coragem

e pular.

Quanto tempo a sua irá durar?