Despedida despida

O mundo desabou naquele precipício inevitável, sou testemunha da perda que me perseguirá por toda a vida. Sua imagem subirá a minha mente em cada obra de arte desse sanguinário louco que chamamos de destino, sua face se escreverá em meus olhos a cada poesia que me penetrar, e o sabor melódico de sua voz proferirá as mais belas e dolorosas cantigas de amor em meus lábios sedentos por um beijo fatal do único ser capaz de encerrar meu coração. Todos os momentos dignos de memória e todos os instantes dignos de história acabam em um passeio breve pelo cemitério do incompreensível, não há paixões enterradas ou amores desesperados erguendo-se à tona, o que persiste é o olhar quente de quem contempla o frio do amanhã incerto e a beleza trágica da ciência de que tudo será sempre em vão, passageiro, forasteiro. O vento que me trouxeste, é o mesmo que me levaste, mas não sou como o vento que tudo apunhala e liberta, não sou mais a mesma menina daquela tarde fascinante em que te encontrei, hoje estou mais séria, em equilíbrio, quem sabe, feliz por ter te conhecido e melancólica por ter te deixado voar. Preciso de um grito de insanidade que me desperte do abismo em que me jogaste, se eu pudesse me livrar dele, sairia pelas ruas dessa noite chuvosa e quente, sem rumo, posto que meu norte é você. Agora, que não trilho mais ao lado seu esses caminhos sinuosos que a vida me preparou, sinto como se eu estivesse estática, à espera de um sinal de você, um sopro leve que me leve as angústias, trazendo-te de volta, ou um sussurro rápido e lacerador de que jamais voltarás para os meus braços.

Flora Fernweh
Enviado por Flora Fernweh em 27/02/2020
Reeditado em 31/10/2021
Código do texto: T6875651
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.