Dança esta comigo?

Dança esta comigo?

Hoje me lembrei desta pequena frase composta por apenas três palavras. Não me pergunte os motivos, causas, razões ou circunstâncias fizeram que tal frase viesse visitar meus pensamentos depois de longos anos não ditas. Era assim que na minha adolescência e juventude se davam os primeiros passos para uma conquista “amorosa”.

Tudo começava num ambiente ofusco, de pouca luminosidade, onde as moças geralmente encostadas na parede da casa ou numa cerca que separava o terreiro, aguardavam o convite para uma dança. Mesmo num ambiente com pouca claridade que em épocas de frio ficava menos escuro pois uma fogueira expandia luz e calor a metros de distância, havia um respeito enorme, pois os olhares severos de algumas mães, ou de alguns pais que não se sentavam a mesa de baralho era muito atento que as câmeras de segurança de hoje.

As damas algumas um pouco tímidas talvez, ou querendo fugir de alguns cavalheiros que não tinham consigo o dom da dança, amontoavam-se atrás das outras, e muitas vezes por educação não recusavam um convite para uma valsa. O sanfoneiro pegava a sanfona, acendia um cigarro de palha na maioria das vezes, fazia cócegas na “ danada”, um som baixinho saia, depois ia aumentando. Pensava-se que o baile já ia dar o pontapé inicial, chegava o homem do violão e mais meia hora de afinação de instrumentos e fumaças de cigarro se passava. Enquanto isso mesmo no obscuro os olhares iam se cruzando e os cavalheiros já iam procurando a sua dama favorita, torcendo para que a dança fosse apenas um pontapé para uma conversa agradável. Quando tudo parecia que ia dar certo para o inicio das músicas chegava um sujeito com um pandeiro, e mais alguns minutos se passavam. Parecia uma eternidade a um coração ansioso para fazer o convite.

Quando a música começava o convite parecia uma corrida de São Silvestre. Todos os cavalheiros dirigindo as pressas em direção as damas, alguns já convidavam a distância, apenas com um olhar. O sim ao convite já era motivo do coração acelerar, e o quando a mão se colava na cintura e os dedos da outra mão, se cruzando aos dela, era como se o mundo fosse conquistado. Durante a valsa, se o papo fluísse já era motivo para pensar que podia dar certo... Terminado a música, arriscar segurar na mão, e pedir, dança esta comigo ( de novo), era uma prova de fogo. A resposta nem sempre vinha com palavras, apenas com um sorriso tímido. Dai em diante tudo ia ficando mais concreto E ao final de mais uma, e mais outra, muitas vezes o assunto não tinha mais fim, e ai o convite já seria outro, vamos sentar e conversar um pouco?

Ali poderia ser o inicio de um “namoro”, que as vezes duravam apenas dois dias, ou meses, anos, isto só o tempo poderia dizer. Quando era hora de ir embora, a moça já sabia pela agitação das mães que ajuntava todas que estavam sob sua responsabilidade. Ai o convite, dança esta comigo? ( de novo). E ao fim desta valsa, arriscava-se o pedido: - Posso te levar em casa? O sim fazia um coração pular de felicidade.

Assim era o baile na roça nos tempos de adolescência e juventude. Esta lembrança veio visitar minha memória, e eu gostei... Senti desejo de voltar lá atrás e poder dizer baixinho:.. “ Dança esta comigo”?

Ansel Antony
Enviado por Ansel Antony em 01/03/2020
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