O Coração do Meu Coração

O coração do meu coração parou de bater,

inevitável desarraigá-lo do meu peito.

O hospedeiro havia fugido

cansado de ouvir versos livres.

Comecei a tirar das paredes as lembranças,

de um passado sem porta retratos no canto.

Joguei porta afora os pensamento obscenos

e todas as roupas picantes do armário.

Lancei fora todos seus pertences,

muito embora só no imaginário.

Mas o ar tinha seu cheiro impregnado,

prova que ali ele tinha morado!

O coração do meu coração parou de bater,

coloquei-o cremado numa caixa de perfume

por ele a tanto presenteada.

Nesses casos, é melhor desistir de bater,

ao menos na presença da alma.

Mesmo sabendo que ali morava,

deu-me um tiro certeiro no peito.

O coração do meu coração?

Morreu.

Enquanto o meu ofegante ainda é dele.

Railda
Enviado por Railda em 27/03/2020
Reeditado em 15/10/2021
Código do texto: T6899006
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