Carta aberta aos pastores e cristãos pelo Dia da Resistência (31.03.1964)

HOJE É DIA DA RESISTÊNCIA CONTRA A TIRANIA.

Sim, não se engane. No dia 31 de março de 1964, a resistência iniciou. Resistência tal qual proclamada por Dietrich Bonhoeffer. Ele, alemão, foi pastor luterano atuante na Igreja Confessante, movimento interno para refrear as intenções malignas do Nazismo em corromper as igrejas luteranas e reformadas, pelo menos. Foi morto em campo de concentração por não somente atuar nos bastidores contra o Nazismo mas, ainda, participar (embora não se saiba como) da Operação Valquíria, que falhou em resultar num ataque mortífero ao Führer, Adolf Hitler, e na tomada de poder do III Reich para encerrar a Segunda Guerra Mundial em armistício.

Na ocasião da nomeação do Lula como ministro, no governo Dilma, eu lembrei dele. Dietrich Bonhoeffer. Na época, eu acreditava que estávamos perto de algum caos político e social, por conta das revelações da Operação Lava-Jato. Hoje, novamente, em face do discurso de Bolsonaro e Mourão de que este dia, dia 31/03/2020, é um "dia de liberdade" e "dia de intervenção" a ser comemorado, isto é, o golpe militar de estado ocorrido em 1964, ato revolucionário e atentatório à ordem constitucional vigente...

...eu lembrei de Dietrich Bonhoeffer. Outra vez.

Ora, se ontem a política brasileira - a meu ver e vendo ao longe - estava ameaçada, agora muito mais ao se aproveitarem de um momento de fragilidade social para exaltar a tirania, a opressão, a antidemocracia. Infelizmente, discursos inconstitucionais legitimados por 57,7 milhões de votos válidos. E por votos que vieram após a retomada da ordem constitucional!

Na ditadura militar não há voto, não há voz, não há expressão. Não para o povo, mas, somente para alguns iluminados que querem, por força, por violência, serem relevantes. Afinal, são irrelevantes na autodeterminação popular democrática e acreditam que o militarismo é, de alguma forma, alguma virtude política.

Espero o seguinte com tudo isso acima: que os pastores e cristãos que resistiram às questões políticas atentatórias à ordem constitucional brasileira nessa época, também sejam honestos e resistam agora. Que façam posts como antes, que falem como antes, que se manifestem como antigamente. Que alguém reúna o pessoal e orem, como oraram.

Que os pastores e cristãos que oraram para que Lula fosse deposto do ministério, orem também para que o governo de Bolsonaro e Mourão, junto com toda a cúpula protofascista, também seja deposto.

E que toda a propaganda política eclesiástica feita pró-Bolsonaro resulte num jejum não para "coibir a propagação" da Covid-19 mas, antes, por arrependimento. Arrependimento para confessar que Jesus é o Kyrios, o Senhor, e não a idolatria que havia de que "com Bolsonaro, tudo vai melhorar". É pra isso que o jejum devia ser convocado, que as orações precisam ser realizadas. Coisa pior que o Covid-19 pode vir, porque o arrependimento de II Crônicas 7.14 é quanto a IDOLATRIA, e isso somente. Muitas outras doenças podem acontecer por repreensão divina em face da idolatria. Tenho plena certeza disso.

Ou talvez devemos sofrer ainda mais por nossa hipocrisia?

Fico com Bonhoeffer, portanto, que disse:

"Cristianismo permanece ou cai, com seu protesto revolucionário contra a violência, arbitrariedade e orgulho pelo poder, e com seu clamor pelos vulneráveis. Cristãos estão fazendo pouquíssimas coisas para tornar claros esses pontos [...]. A cristandade se ajusta muito fácil à adoração política. Cristãos devem ser ainda mais ofensivos, chocar o mundo ainda mais, mais agora do que têm feito".

Resista sempre à tirania. Tirania não tem lado político. Mas sempre tem um rosto.

Há um tirano a se manifestar no Palácio da Alvorada. Que sua queda se dê antes de seus atos serem manifestos.

Em favor da resistência, em favor da verdadeira liberdade: a democracia republicana constitucional.

ALIVAVILA
Enviado por ALIVAVILA em 31/03/2020
Reeditado em 01/04/2020
Código do texto: T6902885
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