A Casa da Fábrica e seus Medos
Meu pai casara com 18 anos e minha mãe com 15. Ela contava das muitas cobras que apareciam na fábrica. E suas narrativas fantasiosas eram sempre acompanhadas de “Era assim mesmo e era verdade!”
A casa da fábrica sempre foi um personagem e cenário a mais das narrativas de minha mãe e de meus irmãos que lá nasceram. A fábrica era o coração daquele município. Se o coração é o órgão que recebe o sangue do corpo e o faz circular, a fábrica recebia leite das fazendas para pasteurização e produção de derivados. A igreja e suas adjacências eram o consciente e o subconsciente daquele lugar.
Destes relatos eu me lembro de dois: a cobra que meu pai cimentara na calçada e que passara ali vários anos. Quando tiveram que consertar a calçada, lá estava a serpente vivinha da Silva & de Paula Lisbôa. E com corpo cheio de reentrâncias.
Outra narrativa tão cabulosa quanto esta era a da comadre que amamentava sua criança e acabava cochilando. O bebê emagrecia. Um dia o compadre chegou ao quarto. Encontrou o réptil gigantesco mamando no seio da mãe e, para o bebê não chorar, estava com o rabo enfiado na boca da criancinha. A mãe dormia sono solto.
Passaram-se anos, eu fui assistir ao filme do Mazzaropi, de quem minha mãe e meu pai eram fãs e lá a cena era explícita. Minha mãe mesclava fantasia com seus medos na solidão em que vivia quando meu pai tinha que se ausentar. E aí vinha outra narrativa.
Meu pai tinha que viajar para dar assistência às outras filiais das hidrelétricas e fábricas de laticínio. E nisto chegava verba para o pagamento dos operários. Para o tanto de dinheiro ela tinha que achar um lugar seguro para que depois fosse efetuado o pagamento dos assalariados. Como a casa era afastada do núcleo municipal, ela punha o baú com o dinheiro entre meus irmãos, que eram colocados para dormir, na mesma cama que ela. “Como a iluminação era fraca, se houvesse algum assalto, o bandido pensaria que o volume do baú era só mais uma criança que dormia” contava ela com ar de esperteza.
E houve o caso da alma penada que soprava o fósforo e não deixava acender o palito.
De minha mãe, boa mineira que era, as assombrações. De meu pai, mestiço de português, índio e negro, os casos de pescaria como descendente de puri.
Ah, isto eu conto outra hora... É quase meia-noite e acho que eu vi um vulto ali me espiando.
Ah, a memória é uma questão de exercício. É só puxar um fio, como novelo de lã, e de repente aparece mais e mais. A memória é uma novela.
Meu pai casara com 18 anos e minha mãe com 15. Ela contava das muitas cobras que apareciam na fábrica. E suas narrativas fantasiosas eram sempre acompanhadas de “Era assim mesmo e era verdade!”
A casa da fábrica sempre foi um personagem e cenário a mais das narrativas de minha mãe e de meus irmãos que lá nasceram. A fábrica era o coração daquele município. Se o coração é o órgão que recebe o sangue do corpo e o faz circular, a fábrica recebia leite das fazendas para pasteurização e produção de derivados. A igreja e suas adjacências eram o consciente e o subconsciente daquele lugar.
Destes relatos eu me lembro de dois: a cobra que meu pai cimentara na calçada e que passara ali vários anos. Quando tiveram que consertar a calçada, lá estava a serpente vivinha da Silva & de Paula Lisbôa. E com corpo cheio de reentrâncias.
Outra narrativa tão cabulosa quanto esta era a da comadre que amamentava sua criança e acabava cochilando. O bebê emagrecia. Um dia o compadre chegou ao quarto. Encontrou o réptil gigantesco mamando no seio da mãe e, para o bebê não chorar, estava com o rabo enfiado na boca da criancinha. A mãe dormia sono solto.
Passaram-se anos, eu fui assistir ao filme do Mazzaropi, de quem minha mãe e meu pai eram fãs e lá a cena era explícita. Minha mãe mesclava fantasia com seus medos na solidão em que vivia quando meu pai tinha que se ausentar. E aí vinha outra narrativa.
Meu pai tinha que viajar para dar assistência às outras filiais das hidrelétricas e fábricas de laticínio. E nisto chegava verba para o pagamento dos operários. Para o tanto de dinheiro ela tinha que achar um lugar seguro para que depois fosse efetuado o pagamento dos assalariados. Como a casa era afastada do núcleo municipal, ela punha o baú com o dinheiro entre meus irmãos, que eram colocados para dormir, na mesma cama que ela. “Como a iluminação era fraca, se houvesse algum assalto, o bandido pensaria que o volume do baú era só mais uma criança que dormia” contava ela com ar de esperteza.
E houve o caso da alma penada que soprava o fósforo e não deixava acender o palito.
De minha mãe, boa mineira que era, as assombrações. De meu pai, mestiço de português, índio e negro, os casos de pescaria como descendente de puri.
Ah, isto eu conto outra hora... É quase meia-noite e acho que eu vi um vulto ali me espiando.
Ah, a memória é uma questão de exercício. É só puxar um fio, como novelo de lã, e de repente aparece mais e mais. A memória é uma novela.
#memória #crônica #poesia
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 10/09/2020.
Direitos do texto e foto
reservados e protegidos segundo
Lei do Direito Autoral nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998.
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