Sempre há tempo

Sempre há tempo

Começo mais um dia com está angústia no peito, angústia que não sei de onde brota.

É uma sensação de perda, mas perdi o que? E a onde?

Não percebo, mas perco muito todos os dias.

Cada dia em que acordo perco o nascer do sol, o cantar do galo, o azul do céu, que ainda misturado com o breu da madrugada, começa a despontar.

E por aí vai...

As vezes me sinto impotente ou mesmo o mais prejudicado dos mortais, por não ter os cabelos vermelhos e por me sentir sozinha.

Sozinha!

Talvez seja isto, talvez eu seja sozinha, talvez eu não tenha amigos, talvez seja minha própria vizinha, mas ainda consigo ficar pior.

Se fico em casa perco o abraço que me daria um colega ao me encontrar, perco o beijo que me daria um amigo ao me ver, perco o sorriso que me daria um desconhecido ao me cumprimentar, perco um _Boa tarde! Que me daria o senhor que atravessaria a rua comigo.

Para ter tudo isso é preciso que eu saia de casa e isso dificilmente eu faço.

Pelo vão da janela vejo os raios de sol que estão diminuindo, mas perco o pôr-do-sol, a preguiça não me deixa ir vê-lo e assim acabo perdendo também o aparecimento da primeira estrela e com ela o despontar da lua.

Sei que estou longe de entender o que está diante de mim, sei que tenho que saber, mas prefiro esperar pelo fim.

Não sei se sou uma pessoa triste ou simplesmente acomodada para o mundo, ou pior, para a vida.

Recuperar será que é possível? Pode ser que não, mas posso para de perder.

Talvez eu acorde as cinco da manhã e fique à espera do nascer do sol, talvez eu saia andando pelas ruas e encontre os abraços, beijos, sorrisos, cumprimentos que ando perdendo.

Quando estiver bem de tardezinha eu sairei de casa e ficarei na calçada, poderei ver o sol se pôr e o despontar da lua com suas estrelas, e quem sabe dormirei sob o céu estrelado.

Se eu fizer isto pelo menos um dia por semana a viver eu estarei voltado.

Roberta Krev
Enviado por Roberta Krev em 24/10/2007
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