Mais um clichê

Nem duas colheres de chá cheias de açúcar conseguem tirar o gosto amargo das xícaras de café que tenho tomado nas últimas madrugadas antes do trabalho. Acho que nem dois kilos de açúcar seriam capazes de adoçar a vida amarga que tenho levado sem você.

As vezes acho que permito os pensamentos bagunçados na minha cabeça só pra me fazer lembrar da bagunça do teu quarto.

Pode parecer clichê, mas o foda é que tudo me lembra você. O foda é não saber se aquilo foi um "adeus" ou um "até logo". O foda é que abraço nenhum tem me feito sentir segura como o seu me fazia. O foda é que nenhuma foda até agora foi tão boa como eram as nossas.

Pode até parecer clichê, mas ontem beijei outra boca lembrando da tua. Tentei buscar em outro toque o arrepio que o teu toque me causava e só acabei sentindo mais saudades. Acho que teu toque me tornou frígida de tanto que me fez sentir. Você me fez sentir tanto que agora nem consigo sentir mais nada.

Eu só sinto muito por não poder fazer mais nada pra permitir que você ficasse. Eu sinto muito por só conseguir falar sobre tudo o que sinto na nossa despedida.

Por que o fim de um ciclo tem que ser tão doloroso? Eu só queria dormir por uma semana, ou um mês ininterrupto pra não ter que lidar com tudo isso. Eu reclamava de não saber lidar muito bem com o que a gente tinha, mas agora eu não queria ter que lidar com a tua partida. Eu não queria ter que lidar com a minha incompletude e nem pensar sobre o quanto é errado eu não me sentir completa se não tenho alguém como você pra compartilhar a vida.

Dói demais ter que te deixar ir e aceitar que a vida são só ciclos e que o nosso ciclo se fechou naquela noite de chuva quando te vi indo embora e senti que nunca mais ia te ver de novo. Doeu. Ainda dói. Talvez doa por mais algumas semanas, ou meses, porque eu sei que ainda vou lembrar de todos os teus detalhes por mais um tempo. Eu tenho certeza que vai levar um tempo até que eu consiga esquecer daquela última semana antes da tua partida, regada a choro, tesão e carinho.

Eu sei que vai demorar pra eu parar de pensar no nosso último beijo, na nossa última transa, naquele primeiro "amo você" que saiu da minha boca e da sua resposta quando disse "também te amo, nega, você nem imagina o quanto". Tenho certeza que a imagem do teu corpo despido e suado fumando um cigarro depois da terceira ou quarta foda não vai sair tão rápido da minha cabeça.

Se eu soubesse tinha pedido pra todas as estrelas cadentes que vimos cair naquela noite em que acampamos juntos pra que me ajudassem a encontrar um jeito de fazer alguma coisa pra você poder ficar, quem sabe tivesse funcionado.

Angelica Stefaniak
Enviado por Angelica Stefaniak em 22/11/2020
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