PINTURA DE THOMAS SALIOT - DESIGN CRUSH






CONFIDÊNCIAS...





 
Querida Luisa:

Há quanto tempo não nos falamos?  Afastámo-nos por acasos da vida, que fizeram seguirmos caminhos diferentes. 
Que sabes sobre mim? Dos últimos anos certamente pouco, tal como desconheço muita coisa sobre ti, e se não fosse a nossa amiga comum Carina me ter encontrado há dois dias num café que raramente frequento, possivelmente continuaríamos incógnitas uma para a outra. Graças a Deus ela tinha o teu contato e assim te estou a escrever. Para desabafar...
Sei que és casada, sem filhos, com alguém que não conheço, mas espero estejas feliz. 
Sabias que também sou casada e tenho uma menina já com cinco aninhos?
Casei com o Duarte, esse mesmo, nosso colega de universidade. Sei o que toda a gente pensava dele, sempre foi um conquistador inveterado, um sedutor pleno de êxito, mas mesmo assim arrisquei… 
Tenho muitas novidades, todas sobre a minha vida pessoal. Por exemplo, dou-me mal com a minha sogra, felizmente que está bem longe de nós, vive sozinha numa casa imensa, na Foz do Douro, no Porto. 
Sobre ele, o Duarte, não gosto de falar, sabes? 
No namoro e princípios do casamento eram só delícias, gentilezas, mesuras… eu claro que vivi encantada até que gradualmente ele ficou mais alheio, pouco simpático, por vezes tratando-me asperamente. Acho que essa mudança coincidiu com o nascimento da nossa filha, a Rute. De facto, passei a dar-lhe menos atenção e ele ressentiu-se, acho que até tinha ciúmes…
Há coisa de um ano, numa tarde em que fui ao notebook cá da casa, que partilhamos, sem querer abri a caixa de e-mails dele. Sabia a password, não foi por mal, ele tinha a lista dos vários códigos relativamente visível numa folha sobre a mesa e por isso entrei na tal caixa, com curiosidade mas sem exageros… E então vi aquela mensagem…
AMANHÃ VAI TER COMIGO AO BAR DO COSTUME … 20H00…   LILIANA…

Isso fez-me curiosidade, ciúmes, enfim, vontade de esclarecer a situação… mas o Duarte chegou a casa e nada lhe disse… E no dia seguinte, ao princípio da noite ele saiu, dizendo que tinha um trabalho para concluir na empresa e teria de estar pronto no dia seguinte, por isso iria demorar, para não esperar por ele…
Eu nem o questionei… Veio tarde, sem ruído…

Depois desse episódio, conclui que ele estava saturado da vida em comum… Também depreendi que apesar de tudo ainda o amava, por isso fui aturando…
Fui seguindo a caixa de e-mails dele e pelo menos mais “seis sessões de trabalho” ocorreram, bastante espaçadas no tempo - cerca de três anos…
No ano passado, depois de mais uma escapadela, confrontei-o com a situação, primeiro negou mas depois, face aos factos, eu tinha copiado e impresso os e-mails, não teve como negar mais, choramingou, pediu desculpa, inclusive prometeu que tudo já tinha acabado…
Eu, boba, acreditei nele e deixei os e-mails em paz.
Dias depois, a Domingas, a nossa faxineira, disse-me, muito envergonhada e pedindo sigilo, que vira o patrão de braço dado com uma elegante morena a passear no shopping. 
Eu não comentei nada com ele mas assumi uma postura diferente: comigo não haveria mais sexo, também não era nada de especial, se me entendes… De qualquer modo, há mais de dez meses que está a "seco", pelo menos comigo. Fechei os olhos a tudo, mas com a firme convicção que quando a Rute já for crescidinha, separo-me dele. Sei que faço mal, ajo tarde e a más horas, há muito que deveria ter tomado essa atitude, mas as crianças é que sofrem… e assim sendo, prefiro ser eu a sofrer…
É a vida.
Amiga, espero em breve receber notícias tuas.
Beijos.


 
Esmeralda




 
Ferreira Estêvão
Enviado por Ferreira Estêvão em 04/12/2020
Reeditado em 06/12/2020
Código do texto: T7127589
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