Carta para um Senhor Distinto VII

Prezado senhor distinto: O desejo

É com grande necessidade (ou seria desejo?) que eu venho à Vossa ilustre presença para registrar uma reclamação.

Vós sois de todos os senhores distintos, o mais presente na vida das criaturas, posto que até os seres irracionais o sentem, e o mais popular entre os humanos, uma vez que até mesmo assumindo várias classificações e outras nomenclaturas não deixa de ser o puro e simples "desejo".

Há quem prefira o seu heteronômio "vontade" como os filósofos A. Schopenhauer e J. P. Sartre. E quem considere essa mesma "vontade"como sendo o mesmo "desejo" como é o caso do também filósofo F. Neetzsche.

Há também quem prefira chamá-lo de "sonho" como o poeta e dramaturgo Ariano Suassuna.

Alguns preferem ligá-lo aos fatores biológicos e neurocientíficos como o Cientista Pedro calabrez, para quem o desejo assume a conotação sexual e, portanto, está atrelado com a libido e esta nada mais é senão uma resposta hormonal aos estímulos propulsores das circuitarias do cérebro em face de fatores externos.( Complicações desnecessárias não é?)

Em fim! Seja como for, Vós sois o Senhor distinto mais citado, tanto nas altas rodas sociais onde impera o consumismo e a luxúria, quanto nas esferas menos dadas às fantasias e aos sonhos. Nessas últimas sois quase que um pecado ou um desafio.

Mas o que eu quero destacar aqui nessa missiva é o seu caráter compulsório (TOC). Portanto, sendo Vós tão real e obsessivo, também em mim está presente e, desse modo, tem exercido uma certa influência no meu eu, e nem sempre me traz benefícios e tranquilidade.

É por isso, e somente por isso, que eu preciso dizer-lhe algumas coisas que estão entaladas na minha glote. E só o faço porque sei que o único culpado desse meu infortúnio é o vosso caráter intrometido. Cracterística que aliás, é a sua essência existencial. Vive se intrometendo onde não é chamado. E nesse último ano fez um estrago no meu coração e na minha mente sem me dar a chance de decidir se eu queria que o fizesse.

Vossa Senhoria se instalou ali sem pedir licença e me fez "sonhar", "querer", "ansiar" (e por quê não dizer elouquecer?) por algo impalpável é impossível.

O Vosso desejo contagiou-me e transcendeu espaços, vindo se alojar no meu corpo que eu já considerava frígido e no meu coração, o qual eu vinha abastecendo com sangue gélido apenas para continuar existindo e não vivendo.

A Vossa "vontade" me fez ter esperanças tolas e entrar num estado "mesolínico dopaminérgico" (neurociências) e "catatônico" ( Psicologia). E eu simplesmente resumo tudo isso num só sentimento "angústia" (filosofia).

Mas sendo Vossa natureza essa mistura de cortisol e sonhos, eu sei que não há muito o que possa fazer para evitar suas consequências. Porém, pelo menos pergunte se desejo sua presença em minha vida antes de entrar. Quero ter a ilusão de pensar que tenho escolhas. Ainda que eu corra o risco de repetir a mesma experiência catastrófica, já que a Vossa presença no meu cérebro anula a minha sanidade...

Filosoficamente: Adriribeiro/@adri.poesias

Adriribeiro
Enviado por Adriribeiro em 25/12/2020
Reeditado em 27/12/2020
Código do texto: T7144009
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2020. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.