AS TRÊS DESPEDIDAS

Ontem eu experimentei uma situação interessante. Por volta das 22 horas, em certo grupo de WhatsApp, findei por conhecer uma pessoa surpreendente. Em meio às mensagens de amigos do Direito, uma pessoa me chamou a atenção em demasia. Era Ana! Não sei por qual razão isto aconteceu, tampouco porque me inclinei a mandar mensagem à ela... Apenas percebi que, num áudio desinteressado, no tardar da noite, declamei um poema de Érico Veríssimo. De pronto, ela me respondeu e, de certa forma, na resposta dela – que não se resumiu a emojis – vi a possibilidade de iniciar uma conversa.

Eis uma coisa que não é do meu feitio: iniciar conversas com pessoas que nem conheço tanto, ainda mais pelas horas noturnas, ainda mais sobre poesia – felicidade imensa Deus me ter feito poeta!

Notei, nas horas subsequentes, uma série de respostas inteligentes, capazes de evidenciar que Ana possuía, além de uma beleza estética muito refinada, uma beleza espiritual rara de se encontrar nos tempos atuais. Por horas a fio, contamos da pureza das poesias, do vazio das pessoas e dos projetos para o futuro. Ainda que novela parecesse, o capítulo parecia não ter fim, uma vez que nenhum de nós aparentava querer deixar a conversa pra depois.

Já hoje, depois de uma da manhã, ela me confessou que teria de acordar cedo, pelo que se despediu pela primeira vez. Mesmo assim, depois dessa despedida, tínhamos muito assunto a conversar, motivo que nos fez protelar a despedida por mais uns minutos, até que eu, já cansado e sonolento, me despedisse, causando a segunda despedida.

Como de costume, fizemos de conta que não nos importávamos com a despedida dada e, por alguns minutos mais, conversamos sobre as coisas que achávamos ser corretas ou erradas. Mais parecia um encontro de amigos que, há tempos, não se encontravam, e, mesmo não nos conhecendo, havia uma sintonia evidente entre nós, capazes de nos fazer querer conversar no dia seguinte. Por fim, um adeus nos foi comum e, assim, fomos embora, embora não estivéssemos totalmente desvinculados um do outro.

Hiury Souza
Enviado por Hiury Souza em 09/01/2021
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