Instante
Sentei-me à beira do caminho
E parei por um instante a pensar:
Estou indo para o lado certo
Ou para onde o coração mandar?
Porque nem sempre o que é certo
É o que nos traz felicidade
E a certeza do que é perto
Pode ser a distância da realidade.
Então levantei-me e ao redor olhei,
E vi: nada do que sonhara
Estava na minha estrada,
Antes, o que distante, incompreensível, imaginara.
E pus-me a caminhar em rumo algum
E, em destino nenhum, sem norte certo
Encontrei-me em mim, o que queria,
E o que, distante, estava tão perto:
A felicidade, outrora esquecida,
E face a face nesta vida de ilusão,
Deparei-me, em minha despedida,
Com o encontro à minha própria solidão.
Porém, em minha pureza, e maldade,
Vi-me solto, leve, triste, envaidecido,
Mas percebi que a minha felicidade
Era somente o meu sonho esquecido!
E, ao acordar dentro da minha vigília
Compreendi que o que eu tinha perdido
Era mais do que eu deixei de procurar,
Mas o que eu não tinha percebido!
Assim, nesta vida em devaneios,
Pus-me a andar, não mais correr, em desespero,
Mas pausar os meus momentos de alegria:
Os instantes em que senti-me em agonia...
Pois após tanta vida enterrada
No chão, em que eu, próprio, a cavar
Não era o meu sepulcro a me esperar,
Tão somente o que deixei de ser vivida!