CARTA DE OUTONO

Meu amor,

Há muito nos distanciamos da última primavera. As chuvas de Março romperam a lentidão dos dias quentes e eis que chegamos a hoje. Naturalmente se havia de pensar que esse seria o momento propício para um encontro mais terno entre nós, afinal tudo está maduro, e até a alegria pode ser colhida diretamente do pé. Sei também que é no outono que se preparam os agasalhos que nos cobrirão no inverno, embora o único abrigo que me atrai seja o do teu pequeno corpo vivo, também ele totalmente maduro e pronto para mim. Se então olharmos um para o outro, talvez descubramos que há um destino à nossa espera, um caminho que não ousáramos desbravar por medo da grande ventania que espalha pelo mundo folhas e sementes, deixando as árvores desnudas. De minha parte, porém, ouso abençoar esse tempo que é como o recomeço de um pensamento - pois sei que minhas sementes ainda ressurgirão do meu silêncio - e enfim agradecerei à vida a chance de ter vivido com simplicidade, assim como um pequeno broto cresce porque um dia recebeu amor.

Silvano Gregorio
Enviado por Silvano Gregorio em 24/03/2021
Código do texto: T7214445
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.