O  Velão do Cruzeiro
Acertando Passos    Cartas ao Tempo – Narrativas, Pessoal e Familiar - Crônicas
 

Há respostas no passado. Senão, deixaria de existir o presente. E somos o que somos devido ao ontem: acertos e erros. Busco respostas porque a História sempre me fascinou. No ontem encontro razões: acertos, desacertos, vergonhas e honras. Não a história revisionista e revisionária: revisão sem procedência e não comprometida com a Ciência Histórica.  
 
Para acertar o relógio do agora é preciso reconhecer, tomando por fundamento a premissa de que “somos filhos de nosso tempo”. Só trazendo para o CONSCIENTE é que resolvemos os problemas mal resolvidos do inconsciente. Esta é a cura para nossas doenças da psique, da alma: as Neuroses. Pensamos no memorialista Pedro Nava e parafraseamos:  “Podemos modificar o passado quando nós recontamos este fato lembrando ou percebendo detalhes esquecidos, omitidos, relembrados, pesquisados.” Na oralidade somamos História e Memória sem ferir a Ciência, mas dando voz a vários sujeitos. A oralidade está além dos documentos escritos.
 
O tempo de meu avô e seus pais foi o tempo da violência da colonização e seus paradoxos. Instrumento da colonização é aquele que foi odiado e amado. Nas Minas Gerais ele transitava entre o município contemporâneo de Santa Bárbara do Tugúrio, Desterro do Melo e ia ao Rio de Janeiro, segundo os casos contados por minha mãe. Tinha fazenda com tropas levando e trazendo víveres. Sua alcunha era “Velão” por ser muito branco e alto. Ele se estabeleceu com seus pais na Fazenda do Cruzeiro dos Pintos. A fazenda é um marco de civilização testada pelo Cruzeiro, o Cruzeiro dos Pintos: lugar de paragens e descansos. Sua fazenda foi a primeira a instalar usina hidrelétrica para o “engenho” - alambique.
 
Antes de meu avô, o Velão, ali havia o marco chamado Cruzeiro dos Pinto. Teria sido estes Pintos os primeiros proprietários? Sei que minha mãe, em seu terceiro filho foi assistida por Odila Congo Pinto. Eu faço inferência que os antepassados desta pessoa   teriam sido escravizados e registrados com nome próprio (Odila, irmã de Marieta e Manoelzinho e filha de Sá Jovem), com o nome de origem (Congo) e sobrenome dos escravagistas (Pinto).
 
Antes disto há o seguinte registro segundo um pesquisador a quem eu pedi informação:
Leonardo, estou pesquisando a lista nominativa de 1831 do Arraial da Capela do Mello e encontrei os seguintes nomes: Silvério José de Mello Theodora Rosa (mulher) Filhos: Antônio José Maria Anna Escravos: José Luiz Maria Rosa Generosa...  Estou pesquisando os ascendentes e descendentes desse Mello para tentar descobrir a relação com o toponímio da localidade.  O local já se chamava Mello antes da doação de patrimônio para constituição da Capela por António José de Mello, que é tido como fundador.
 
Obtive mais algumas informações sobre seus ascendentes: Silvério Augusto de Melo casado com Francisca Maria da Conceição. Filhos: Silvério Augusto de Melo Júnior (Velão) cc Augusta Odorica de Melo. José Silvério de Melo (Juquinha Velão) cc Maria Machado (Sinhá) moraram no Cruzeiro dos Pintos, onde foi instalada a primeira usina hidrelétrica em fazenda e o primeiro alambique do Distrito.” (Sic)
 
 
Meus bisavós  maternos eram, então: “Silvério Augusto de Melo casado com Francisca Maria da Conceição. Filho: Silvério Augusto de Melo Júnior (Velão) cc Augusta Odorica de Melo. E aquele que inicialmente ficou residindo na fazenda. José Silvério de Melo (Juquinha Velão) cc Maria Machado (Sinhá) moraram no Cruzeiro dos Pintos, onde foi instalada a primeira usina hidrelétrica em fazenda e o primeiro alambique do Distrito.
 
Silvério Augusto de Melo e Francisca Maria da Conceição tiveram, além do Velão, outro filho que deixou descendente em Santa Bárbara do Tugúrio. Eu tive menos contato com estes parentes sendo o que eu mais me aproximei foi com  Ti’Juca Afonso e a Comadre Lili. Pai e filha estavam sempre  em Barbacena. Ele na década de 1970 levava alguns livros emprestados e sempre retornava para novas remessas. Ela, em 1976, no casamento de minha irmã, de quem era madrinha, ao saber que eu aos 17 anos mudara de religião surtou. Dizia, ao me ver, que “Papel aceita tudo!”. Sobre a cama estavam os presentes recebidos no casamento. Entre eles  um crucifixo. Ela lançou mão do mesmo e esfregou em minha boca dizendo histericamente: “Beija nosso senhor Jesus cristo!”
 
 
Os nomes próprios dos colonizadores e dos que foram escravizados são citados conforme eu obtive. Mas eu os leio separados em virtude de serem nomes usuais na região e por julgar que não sejam nomes compostos. E assim escrevo: Antônio, José, Maria,  Anna cujo pai era  Silvério José de Mello marido de  Theodora, Rosa. Seus escravos são José, Luiz, Maria, Rosa,  Generosa.
 
 
Entre Desterro do Melo e Santa Bárbara do Tugúrio ficava a fazenda do Cruzeiro dos Pintos. E dá o nome da Fazenda Cruzeiro. Este nome “Cruzeiro”  seria dado ao Bar, Restaurante e Padaria da família do Ti’ Nico em Barbacena.
 
Estes Cruzeiros eram comuns nas Minas Gerais a exemplo do que se situa próximo à propriedade de meu avô:  Cruzeiro dos Pintos - um marco histórico no (des)Caminho do Ouro. Chamado Caminho do Ouro por ser rota de Tropeiros que rezavam, descansavam e ao longo do percurso havia depósitos de suprimentos chamados de "Vendas".


 
Uma inferência e uma hipótese: O cruzeiro que ainda há e chamado de Cruzeiro dos Pintos (Pintos, os primeiros proprietário?) eram  Cruzeiros  fincados como sinal civilizatório da região - a exemplo de "pedras de sesmarias" doadas no início da colonização do Brasil. Segundo o pesquisador cultural do município havia ou há resquícios de um outro cruzeiro no cemitério do município de Desterro do Melo.
 
 
Silvério Augusto de Melo Júnior, contava minha mãe e filha dele, tinha os braços queimados.  Como era usual na época ainda pequeno usava camisola. E ao estar com os pais se aquecendo em fogueira por descuido sua roupa pegou fogo. Foi tratado com folha de bananeira devido a distância de qualquer posto médico. Estas camisolas vestiam crianças independentes do gênero, pois na primeira infância todos eram vistos como “anjinhos” independentes do sexo.
 
Em sua oralidade minha mãe dizia que seu pai era de descendência alemã, mas infiro que isto seja apenas uma alusão, uma alcunha. Ele era, segundo minha mãe, muito branco e alto. Daí a alcunha “Velão”. Em terras mineiras predominavam os tipos humanos portugueses e mestiços. Todos amorenados. Os alemães vieram somente no Segundo Reinado e se estabeleceram  no sul do país ou nas proximidades de Juiz de Fora e não exclusivamente nas Minas Gerais do Caminho do Ouro.
 
 
Leonardo Lisbôa
Barbacena 08/11/2020
 
 
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Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 17/05/2021
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