Tu me perguntas de onde provêm nosso descontentamento.
Queres saber se a causa de nossa infelicidade está nas coisas que nos ocorrem; nos fatos do dia a dia; nas adversidades que o destino nos impõe.

Ao ler sua pergunta, lembrei-me dos ensinamentos de Epicteto que nos recorda que não são os fatos que nos pertubam, mas que é a opinião que temos dos fatos  que nos geram a pertubação.
Assim, com base em nossos ponto de vistas infantilizados, contamos histórinhas desagradáveis sobre os fatos que nos ocorrem e essas historinhas nos deixam descontentes.

O mais incrível neste processo é que muitas vezes não sabemos nem mesmo separar o que são fatos e o que são nossas opiniões.

Assim, se meto a mão no bolso e encontro apenas duas moedas, o fato em si, não é bom nem ruim. O fato é que eu tenho duas moedas, mas a minha opinião pode muito bem ser : sou um pobre fracassado. E é essa opnião que vai criar todo o descontentamento e não o fato em si.

É certo, meu filho, que nem sempre os fatos externos estão sobre nosso controle, mas saiba que a nossa reação em relação aos fatos é do rol de coisas que dependem de nós. E nossa reação emocional e física, tem como causa não os fatos, mas nossas opiniões sobre os fatos; nossos pensamentos, nossos ponto de vistas; nossas crenças e convicções.

Assim, fica evidente que o descontentamento ou o contentamento não são fruto das circunstancias, mas das nossas opiniões, ou seja, fruto de uma das coisas que depende de nós.

As opiniões sobre os fatos, assim como os desejos que implantamos em nossa mente são coisas que dependem de nós.

É certo que há crenças que nos limitam e que nos predispõe a interpretações que nos pertubam e a desejos que nos escravizam.

Mas há também convicções que nos poe contentes acima de tudo.

Então tu me perguntas de onde provêm essas crenças que tanto nos prejudicam.

Quando nascemos, já trazemos dentro de nós predisposições temperamentais, alguns mais coléricos, outros melancólicos. Esses temperamentos envoltos pela imaturidade infantil, quando entram em contato com as experiencias da vida, vão formando pequenos traumas sutis ou grosseiros, dando origem a interpretações equivocadas da vida, formando o que chamamos de crenças limitantes.
Soma-se a isso o fato das crianças, adolescentes e adultos não receberem uma educação adequada e serem criadas num ambiente hostil de muita ignorância e pouca sabedoria e eis que temos a formula perfeita para o surgimento de mente rígidas, pessimistas, egocêntricas, gerando todo tipo de crença limitante.

Agora sei que me perguntarás donde provem as convicções libertadoras.
É certo que a libertação só existe, se existe um aprisionamento anterior. Nesse sentido, é natural que as convicções libertadoras nos cheguem num segundo momento com o auxilio da razão. Elas nos chegam, não como uma simples escolha que fazemos ao manusiar um cardápio, mas pelo esforço utilizado ao conjugar quatro elementos.

Imagine, meu filho, que voce pretende fazer uma massa de concreto para construir um muro. Voce terá que misturar 4 elementos:
1) Cimento,
2) Areia
3) Pedra e 
4) Agua.
Na soma desses elementos, misturados na proporção certa, voce construíra o concreto para o seu muro.

Da mesma forma, as convicções libertadoras necessitam da mistura proporcional de quatro forças:
1) A força de vontade,
2) O espirito investigativo(pensar),
3) O serviço vivenciado(agir) e
4) A devoção ao transcendente(sentir).

Assim, a convicção libertadora se constrói e se aprofunda pelo esforço constante na aplicação desses quatro pilares. Se caminhares apenas com um ou dois desses pilares, no melhor dos casos, terá uma convicção rasa que não liberta, bem como um concreto que não funciona. No pior dos casos, utilizando-se só do pensamento, ou só da devoção, ou só da ação, ou só da vontade, poderá criar novas crenças limitantes.

E antes que tu me acuses de confundir a convicção com a Verdade, saiba que a Verdade não é deste muito.

Neste mundo, há crenças que limitam, convicções que libertam e saberes que eternizam.
E muito longe estamos destes saberes.


E assim, meu meninto, saiba que se voce está descontente em algum nível, também em algum nível você está preso a alguma crença limitante.

E  paara não finalizar nossa carta de forma por demais abstrata, vamos a alguns exemplos.
 

Crença limitante - Errei muito e por isso mereço sofrer
Convicção libertadora - Meus erros oportunam aprendizado a mim e ao outro e fazem parte da aventura da vida.

Crença limitante - Tenho absoluta certeza.
Convicção libertadora - Só sei que nada sei. Sou um eterno aprendiz

Crença limitante - Isso é um problema que me faz infeliz
Convicção libertadora - Isso é uma prova que me fará melhor.

Crença limitante - Eu tenho direitos
Convicção libertadora - Só existe deveres

Crença limitante - Este bem pode me ser tirado
Convicção libertadora - Só existe um bem - a virtude, cuja posse é inalienável
Crença limitante - Fui prejudicado
Convicção libertadora - Nada pode prejudicar o que é eterno.
Crença limitante - Tudo é acaso.
Convicção libertadora - Tudo é para o meu bem e bem do universo.

Crença limitante - A adversidade é um mal.
Convicção libertadora - A adversidade é oportunidade para a virtude.

Crença limitante - A vida acaba
Convicção libertadora - A vida continua.

Crença limitante - O perdão é para alguns.
Convicção libertadora - O perdão já ocorreu para todos. Basta compreender

Crença limitante - A realidade doe.
Convicção libertadora - Tudo é ilusão. A mente é assassina do real.

Crença limitante - Tudo é ilusão. Então tanto faz.
Convicção libertadora - Há ilusões maiores do que outra. Prefira as menores.

Crença limitante - No final vai dar tudo certo.
Convicção libertadora - No final vai dar certo. Ainda sim, o esforço.

Crença limitante - O prazer é o maior dos bens.
Convicção libertadora - A virtude é o maior dos bens.

Crença limitante - A dor é o pior dos maus.
Convicção libertadora - A ignorância é o pior dos maus.

Crença limitante - Milagres não existem.
Convicção libertadora - A plenitude está disponível agora.
Atma Jordao
Enviado por Atma Jordao em 13/07/2021
Reeditado em 15/07/2021
Código do texto: T7298591
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