ACASO

Amigos?

Não. Amigos, não!

Inimigos então?

Não. Também não! Não se sente saudade de um inimigo (falo por mim).

Então o quê???

Vejamos: me deixa falar um pouco de saudade.

Saudade eu sinto, de coisas boas, de momentos bons, de pessoas...

Ah, talvez seja esse o ponto: pessoas. Não pessoas por inteiro, mas parte delas que fizeram, também, coisas boas e bons momentos...

Falo então da metade de você que sinto saudade:

Sinto saudade da parte verdadeira, da parte que não pode ser deturpada, da parte que não conseguiu esconder os sentimentos...

Saudade que se mistura com carência. Não a carência por falta de... mas a carência por falta da...

Para melhor entendimento: “Eu já tentei, fiz de tudo pra lhe esquecer... eu até encontrei prazer, mas ninguém faz como você”.

Não! Não se sinta assim tão poderoso. Isso não é uma particularidade e sim uma dualidade.

Como é bem do meu feitio, falo com honestidade dos meus sentimentos.

Seu sorriso já me fez muito bem (realmente me encantava), mas me chega nas lembranças com um ar de falsidade; seus olhos, hoje, me parecem traiçoeiros; suas mãos, apenas piedosas; seu abraço, não mais do que confortante.

Mas do que eu sinto saudade... Bem, foi a única coisa realmente verdadeira e espontânea e que não conseguiu achar desagrados nas lembranças.

Não! Não se sinta diminuído. Isso, também, não é uma particularidade. Não apenas...

Na verdade já pensei: se eu pudesse lhe encontrar com um saco na cabeça (escondendo o rosto) para não ter que lhe encarar e assim matar a saudade que ainda persiste, seria ótimo. Mas, no fundo (não tão fundo quanto à saudade), ainda gostaria de dizer e principalmente de ouvir algumas coisas.

E, então o quê???

Eu proponho uma trégua a saudade (falo por mim).

Talvez um acaso programado...

O resto... virou resto e ficou em - poderia ter sido...-

(Abr/2002)

Anne Alencar
Enviado por Anne Alencar em 18/11/2005
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