Meus queridos Livros!

Vocês fazem parte da minha vida desde que me lembro.

Foi em vocês que muitas vezes me refugiei e encontrei forças para seguir adiante.

Cada história nova fez com que um pedacinho de mim se preenchesse de conhecimento fazendo eu me tornar o ser humano falho e imperfeito que ainda sou nos dias de hoje.

Cada um que chegou foi tratado com muito amor, cuidado e apreço. Mesmo aqueles que vieram já de segunda mão, um pouquinho judiados pelas pessoas ou simplismente pelo tempo.

Hoje, olhando para minha estante, onde todos vocês fazem morada, me peguei pensando no quanto vocês foram valiosos amigos quando mais precisei. Ao mesmo tempo percebi que embora eu os ame e trate com todo zelo, quase deuses ao meu ver, como será depois que não estiver mais aqui? Quem vai cuidar de vocês? Quem vai tirar o pó que se acumula? Quem vai pensar em lê-los?

Por mais que tenha sido difícil juntar moeda por moeda pra poder adquirir cada um de vocês, é muito mais dolorido e sufocante pensar no depois. Pensar que talvez meus filhos os guardem somente por obrigação e que talvez meus netos usem suas valorosas páginas para desenhar, fazer aviões de papel, recortar ou até mesmo atear fogo na lareira.

Isso partiu meu coração de uma forma tão alarmante que acabei satisfeita por alguns de vocês terem sido emprestados e nunca mais terem voltado. Talvez tenham tido um destino melhor.

Decidi,depois de muito pensar, que chegou o momento de vocês serem libertados. De espalharem seus conteúdos em outras memórias, criarem novas lembranças, salvarem outras vidas em vez de ficarem presos à minha estante esperando um futuro que pode vir a ser cruel.

O desapego machuca muito, mas afinal de contas, livros foram feitos pra serem lidos. Esse é o seu propósito!

E as histórias que moldaram meu caráter, jamais poderão ser arrancadas da minha lembrança.

Espero que todas as mãos que lhes tocararem sejam leves e cuidadosas, que cada mente invadida com suas narrativas sejam enriquecidas com o saber. Que vocês encontrem novos corações que os amem, mas que estejam dispostos a compartilha-lhos para que no futuro, suas linhas tão bem lapidadas e elaboradas, não sejam vistas ou confundidas com apenas um monte de papel.