Moratória

Querida, escrevo para lhe dizer que toda esta expectativa que tens diante de ti é fugaz. Se por muito tempo andastes nas trilhas do ideal de quem seria, peço que deixe esse fardo de lado. Sei bem que a vida mete medo, mas se assim é, é para que possa sair da mediocridade. Seus territórios estão a despencar, o chão rachou, mas, pode escolher se infiltrar nestas fissuras, ao invés de correr. Afirme isso que chega, não tente alinhar o caos, porque ele pode conduzí-la a outros lugares. Sei que nesse momento, estranha-te sair da rota, mas vejo você gozar com o flash de loucura que você se questiona. O véu que vestia se desfez e, agora, pode ver melhor. Não é fácil enxergar além do que dizem ser o melhor. Mas veja, a verdade é uma invenção. A ambiguidade que agora lhe toma é deveras desconfortável, mas sinta-a sem demonizá-la. Sei que sorri, ao chorar, quando naquele meio segundo de devaneio podes sentir a liberdade. Sobreviver, em um mundo que nos incita a sermos melhor, é perigoso. Sobrevivência virou a palavra feia no mundo que te vende o "bem sucedido", mas que ela sirva de lembrete de estar sempre à espreita, porque a vida, minha querida, ela se afirma a todo momento. Portanto, ao tirar esse traje de metal, observe o que sai dele. A ruptura pode parecer insana aos olhos dos outros, mas você sabe bem que não existe o tempo certo, o momento viável. Não tens que justificar ou mesmo explicar o fio rompido, pois isso é apenas um corte de fluxo. Mas volte lá para ver para onde este fluxo escapou, para onde ele segue agora. Não se deixe intimidar com a dívida que te incutiram. Ela não tem que ser paga. Decrete falência ao ideal e segue teu rumo.