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O barulho é ensurdecedor, mas o silêncio ainda é mais. A ponte continua no mesmo sítio e por baixo continua o mesmo rio sujo, a guardar as memórias dos peixes que lá morreram naquele dia da descarga da fábrica. Sabes bem que protestei, que fui até às últimas consequências daquilo que me levou a este estado de ostracismo, de poluição mental que tentei que não me afectasse por muito tempo. Mas afectou, agoniou a vontade de continuar a viver nesta espécie de paraíso.

Fiquei chocado com a tua complacência, parecias apreciar-me e cuidar de me proteger daqueles tubarões. Mas ficou claro no corpo sem vida da minha mulher, o ódio que permitiste instalar-se nos inócuos que te rodeiam. A falta de acção é ainda pior que a traição.

Não esquecerei nunca a falta de desafios que me assombram, o descuido do sangue que nos une, as promessas falsas com que sempre me ludibriaste, o desprezo a que sempre me votaste.

Ainda assim, em memória do que antes nos uniu entendo que devo selar a partida com algo definitivo, algo que te faça lembrar, no teu leito de morte o quão nefasto foi o teu desdém.

Adeus.
 
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 03/10/2021
Código do texto: T7355793
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