1000 cartas para você | entre escolhas e renúncias, ficar e ir, mas nunca deixar de te amar

 

     Perdoe-me o atrevimento, mas chegou o momento de quebrar este muro erguido pelo silêncio.

     Escrevo na intenção de aliviar a dor que te assombra. Espero que, depois destas palavras, seja mais fácil seguir em frente, sem mais carregar consigo uma culpa que jamais foi sua. Embora minha atitude não repare os danos de um coração partido e arrasado por uma longa espera, aqui estou, somente por você.

     Soube que você atravessou dificuldades enormes, mas admiro sua força interior, querida, você não esmoreceu. É provável que não acredite em mim, as crenças que ainda impedem seu caminhar são bastante enraizadas, todavia um dia você conseguirá enxergar a si mesma da maneira que te enxergo, com amor.

     A tristeza não representa o fim da alegria, ambas equilibram o ciclo da vida, dando-nos a oportunidade de aprendizado e fortalecimento para os entraves e também os deleites dessa caminhada terrena. Nem entro na questão do destino, aconselho você a curtir cada trecho, reparar nos detalhes mais singelos, silenciar para se ouvir, excelente remédio para a alma.

     Meu olhar parecia distante naqueles tempos, nós tínhamos plena consciência desse fato, mas cada qual se mantinha em silêncio, sofrendo ao seu próprio modo, em partes pela motivação orgulhosa de não desmoronar, quando nosso mundo encontrava-se sobre os escombros.

     Noite após noite, eu procurava um motivo para permanecer, contudo, para me reencontrar, não havia uma fórmula mágica encomendada para preencher meu ego com falácias: uma considerável dose de solidão para tomar decisões difíceis e necessárias para evoluir, tal qual a águia. Deixar o antigo para trás e abraçar o novo, regenerar-me para ser uma pessoa melhor.

     Ferir seu coração nunca foi minha intenção. Naqueles difíceis tempos, nem eu me compreendia. Afastar-me foi a única solução encontrada para preservar viva em você a admiração. Finjo bem, por assim dizer, você nem suspeitaria que no rígido e imposto autojulgamento. Medo de falhar, de decepcionar, de ser uma farsa, da perda, mas de o vazio me prender à teia de uma existência apática.

     Já é tarde da noite. Escrevi mentalmente essas considerações, idealizei um rascunho, deitei-me por algumas noites, sentindo que havia falhado. Em dada altura, a desesperança me consumiu e devastou até chegar a um estágio no qual me interessava somente a transparência e eis que o pensamento me conduz… para onde?

     Posso sentir a energia poderosa de seus olhos negros absorvendo cada palavra. Nada me satisfaria mais do que estar ao seu lado para que as pontas dos meus dedos pudessem recolher suas lágrimas, porque por mais sincero e caloroso que seja o abraço deste reencontro, ainda me sinto em dívida com você.

     Está tudo bem, meu amor, eu estou aqui!

     O tamanho da distância, ao ser multiplicado por uma quantia infinita, obtém o resultado do meu amor por você. Um dia, iniciou-se, porém jamais terá fim, mesmo quando o destino puser um ponto final na minha história, seguirei a te amar das mais distintas formas.

     Esperas revelam-se desafiadoras, sobretudo naquele estágio em que a contagem dos dias atordoa e as notícias não chegam, nem as boas, nem as ruins. A indiferença do tempo em relação a você é tão, tão, tão grande que até o choro se cansa de repetir o ato noite após noite, o sono cai em si de tédio e as estações passam. O que não cessa é a saudade, aquela sensação de ter consigo uma pergunta sem uma resposta objetiva.

     Quando a solidão me desestruturava e, longe de você, eu me encontrava, muito mais longe do que agora, olhar para a imensidão do céu era reconfortante.

     Eu gostava de pensar que em algum lugar do mundo você também se punha a observá-lo e o pensamento a voar longe, em busca de um sinal, único que fosse, para te convencer a não desistir.

     Encontro-me com você em sonhos. Nos dias mais tensos, esse doce vislumbre de ternura serve de alento para que um dia eu viva a vida dormida enquanto mantenho os olhos abertos. Também faço silêncio e ele me denuncia. Se o orgulho impede você de tomar a iniciativa, respiro fundo e sei que tenho muito mais a perder, deixando esse enorme muro cinzento de dor permanecer erguido, separando você de mim.

     Não gosto de fazer promessas as quais não possa honrar mais adiante, mas quando o concreto vier abaixo e a distância for apenas questão de percepção, abstenho-me de palavras. Percorri inimagináveis caminhos para reconfortar-me com o aroma inesquecível de lavanda.

     Independentemente do que informe o boletim do tempo, amanhã será um lindo dia.

     Perdoe-me por não trazer flores, por ter me aconselhado com o medo e me refreado de externar aqueles sentimentos calados pela rotina e pelo meu próprio julgamento. Agora me dou conta do quanto ele é nocivo e traidor, porque quis, de todo o meu coração, preservar você do meu sofrimento. Fiz as malas e parti, deixei para trás não apenas o meu antigo eu, abri mão também de viver ao seu lado.

     Se eu tivesse ficado, não sei, poderia ter me arrependido de não correr riscos, poderia ter você nos meus braços. Somente suposições não confortam, de ilusões me bastam.

     Não disse adeus porque essa despedida nunca teve caráter definitivo, pelo menos no que diz respeito aos meus sentimentos. Espero que você compreenda se também acolheu sua metamorfose para sair mais fortalecida desse ciclo que lentamente aproxima-se do derradeiro fim.

     Fiz uma prece e preparo-me para finalizar minhas considerações, não sem antes agradecer pela amável e sempre atenciosa leitura, pelo amor que (ainda) é, sem dúvida alguma, a certeza que me coloca de pé quando sinto o mundo desabar sobre a minha cabeça.

     Oxalá, se toda saudade tivesse fim ao caber em um abraço quente, apertado, perfumado e repleto de vontade.

 

— De quem desde o primeiro instante viu estrelas resplandecerem em seu doce olhar

Marisol Luz (Mary)
Enviado por Marisol Luz (Mary) em 10/10/2021
Reeditado em 04/02/2024
Código do texto: T7360181
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