Cartas Que Não Foram Lidas VI

CONCURSO PÚBLICO DE BELFORD ROXO

Aos Juízes/Desembargadores dos: Ministério Público do Rio de Janeiro, Tribunal de Justiça e Supremo Tribunal Federal

Assunto: Anulação do Concurso Público de Provas e Títulos nº 002/99, criado pela Lei Municipal nº 765 de 07 de julho de 1999 – Belford Roxo, Rio de Janeiro.

MANIFESTO

Exmos senhores, somos 2419 servidores públicos da cidade de Belford Roxo, chefes de famílias, com filhos, netos e dependentes para criar, somos moradores de uma cidade onde socialmente vivemos com muita dificuldade; mas, não podemos deixar de dizer, que durante as nossas vidas, fizemos por construir uma história, com participações efetivas em todas as lutas sociais em busca da cidadania para o nosso povo.

Em 1990, com a emancipação política dessa cidade, começamos a participar da vida pública, ocupando cargos sociais na Prefeitura Municipal de Belford Roxo, prestando vários serviços à esta cidade, funções estas, que nos permitiu conquistar espaços e o respeito social pelos trabalhos prestados ao povo da nossa cidade.

Em 1999 prestamos concurso público, onde pagamos uma taxa e fizemos uma prova, que nos permitiu as classificações para nos tornarmos servidores efetivos desta cidade, onde, infelizmente, por questões políticas, tivemos um candidato derrotado nas eleições para prefeito, que denunciou ao Ministério Público, a possibilidade de fraude no concurso.

Desde então, vem se travando uma pendenga judicial, que neste ano de 2003, após mais de 3 anos, tivemos os nossos recursos cassados pela justiça, aonde a Prefeitura de Belford Roxo, parte interessada no processo, por ter um mandatário que não tem raízes em nossa cidade, preferiu optar pela anulação do concurso, colocando esta cidade a beira do caos social.

Senhores, hoje, os serviços essenciais em nossa cidade não estão funcionando: Hospital, postos de saúde, cemitério, defesa civil e limpeza urbana deixaram de cumprir suas funções por culpa dessa demissão em massa, são 2419 chefes de família, trabalhadores/funcionários demitidos, desesperados e sem rumo; a maioria com idade acima de 40 anos, sem condições físicas e psicológicas para disputar um mercado de trabalho que hoje pretere a maioria do povo brasileiro.

N’uma época em que se fala em fome zero, primeiro emprego e em fortalecer a auto-estima do povo brasileiro, aqui na cidade de Belford Roxo estamos desesperados com a falta dos nossos empregos; quase todos nós estamos devendo empréstimos bancários e às lojas da cidade; isto sem contar com o desequilíbrio emocional que atinge um grande número de funcionários por acharem que terão dificuldades de contar este tempo para as suas aposentadorias.

Vale ressaltar e perguntar, como ficarão as nossas pensionistas, os nossos filhos sem pais, os nossos aposentados? O que farão essas pessoas na falta de seus proventos? Irão mendigar, encher as ruas do Rio de Janeiro de mais pedintes? Por certo perderão suas dignidades, pois o que dignifica o homem é o seu trabalho... estes trabalhos que estão sendo tirados depois de tantos anos de servidão a este município por ato da nossa Justiça.

Portanto, esperamos uma solução com justiça e prudência, pois não sabemos o que fazer e só nos resta pedir que analisem socialmente a nossa situação, pois somos trabalhadores/servidores que construímos uma cidade para vivermos dignamente, mas hoje, nos sentimos fragilizados por termos que pagar por erros de políticos inconseqüentes, que historicamente estão muito distantes do povo de Belford Roxo.

Belford Roxo, 11 de novembro de 2003.

Vicente Freire