Carta pra mim

Carta pra mim - Marta Souza

(essa foi minha primeira carta, dentre muitas que pretendo escrever)

Querida Marta

Resolvi escrever-te essa carta, com o intuito de relembrar coisas simples, porém, marcantes.

Como o tempo está passando rápido! Recordo-me de almejar chegar aos quinze anos. Hoje pediria ao senhor tempo, que me fizesse voltar pelo menos quinze anos. Isso parece impossível, pelo menos na idade cronológica, mas na idade biológica posso me imaginar com quantos anos eu quiser.

Parece utopia querer viver fora do tempo, mas, não importa. Importa e relembrar hoje, momentos passados com o direito de excluir o que não quiser pensar, fazer uma seletiva parece uma boa pedida. Sendo assim, escolhi pensar poeticamente os devaneios que me levavam a passar horas a fio pensando.

Lembro-me bem de construir um castelo digno de uma princesa, como eu me via e me sentia. O castelo dos meus sonhos era construído sobre uma montanha cercada de flores silvestres, frutas nativas, pequenos animais, riachos e belas arvores. As paredes eram sólidas, com telas pintadas a mão, mas que ora ou outra as imagens saiam a passear e a interagir com as outras, formando uma ambiente mesclado de nuances e movimentos. Conforme o meu estado emocional, as borboletas batiam asas e voavam cantando uma doce melodia, acompanhadas pelo assovio dos grilos quase transparentes, se eu estivesse triste cantavam pra me alegrar, se estive alegre, bailavam ao meu redor como uma ciranda harmoniosa.

Minhas longas tranças, logo se enchiam de miosótis perfumados que saltavam das telas pelas asas do vento que cruzavam as cortinas de organza cor verde água. As rosinhas coloridas saltitavam com delicadeza até salpicarem meu longo vestido rosé. Os passarinhos faziam um cantata só pra mim.

Quanta imaginação!

Mas sabe, nesses devaneios, eu compunha poemas, fugia das cobranças da vida real e exercitava minha mente de forma brilhante, como se tudo fosse real.

Sabe querida Marta, até hoje fujo para lugares inóspitos na minha imaginação para driblar os sentimentos tristes que tentam se estabelecer em mim. Até penso que não é de todo perdido, imaginar que somos quem não somos, nem que seja nas fantasias criadas pela menina de trança que busca a esperança verde, como seus olhos, para imaginar a felicidade em qualquer tempo!

Carinhosamente, eu mesma!

Castelo de sonhos

29-01-2022