A arte da Rejeição

A mudança foi muito visível, mas também sutil.

Uma intensidade tão louca que, quando você vê, está totalmente imerso em sensações e sentimentos que não lhe correspondem, mas ferem mesmo assim.

Fui chamada de dramática toda a minha vida, até entender que existia um outro nome para isso, uma condição psicológica ingrata até, só que eu não quero usar isso como uma muleta e me apoiar para o resto da vida.

Assim como nunca deixei que ser dramática fosse algo ruim.

Mesmo assim, eu percebo o quanto as pessoas são egoístas e mentirosas em seus feitos e ditos. Se não era para eu me sentir rejeitada, então porque me rejeitam tão obviamente? "Eu tentei sinalizar", ele disse. E sim, ficou claro que sim. Antes eu era uma companhia boa de se ter por perto e, hoje, eu sou toxicidade para a perfeição da evolução humana deles.

Patético. Quando foi que eu achei que estar em um grupo de jovens místicos podia ser algo que me faria bem? Eu sou só humana, nunca vou conseguir atingir o nível de evolução espiritual deles e nem ser convertida a esse culto absurdo de good vibes que não me pertence.

Eu sou do caos. Eu gosto do caos.

E ok, pode até ser que eu esteja errada, mas eu não excluo pessoas, eu não as faço sentir como se fossem dispensáveis, triviais, descartáveis ou bobas... Mesmo sendo essa pessoa dramática e intensa que "vai perder amigos", como ele disse, eu me importo e jamais faria essa explícita caça às bruxas como fizeram comigo.

Foi uma substituição tão notória. Cachos por cachos, beleza por beleza, mas a outra não tem essa veia defeituosa: ela é perfeita em sua evolução. E mais uma vez, eu sou obrigada a deixar um grupo que não me pertence. Adeus alcatéia.

Que ideia também: um lobo querer viver com beija-flores e borboletas azuis. Às vezes não sei o que eu tenho na cabeça.

Mas, sei que meu grupo existe em algum lugar e está aí... E sou grata por terem tentado, mesmo que por um segundo apenas, me inserir.

Adeus, não até logo, pois não tenho pretensão de voltar. Aprendi a reconhecer quando não faço falta e essa carta de demissão é mera formalidade. Já fui rejeitada muitas vezes, vejam bem! Sei como funciona. Só cuidado, eu sou meio arisca. Não me venham de conversinha mole depois, porque, uma vez fora da alcatéia, eu sou um lobo solitário e eles nunca são confiáveis.

Ladra de Tinta Seca
Enviado por Ladra de Tinta Seca em 27/02/2022
Reeditado em 27/02/2022
Código do texto: T7461219
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