Valor do Perdão

Alvorada do Oeste, 15 - 03 - 2021

Queridos, meus eternamente queridos pais;

Esse amor com que venho lhes reverenciar é o amor verdadeiro que parte do íntimo do meu ser, do mais íntimo da minha alma, e isso me compraz. Lhes reconheço e aceito como criaturas mui sagradas e divinas que me foram dadas por Nosso Pai Criador, que também amo. Nosso Pai Criador nos ama tanto que primeiro nos dá os pais, como nossos anjos protetores, para depois nos enviar aqui para a Terra. Por aqui já se nota a grande importância de suas vidas na minha enquanto filha. Nossa jornada não foi fácil. Não seria interessante se tivesse sido fácil. Me lembro como nas cenas de um filme todas as dificuldades vividas por todos nós. As dificuldades financeiras mais precisamente que os levou a pensar em atitudes jamais pensadas, hoje vocês nem se lembram mais. Ainda bem para não terem que sofrer mais. Me lembro das vezes que acompanhei minha mãe na roça levando almoço para meu pai. Quando havia arroz e feijão no prato era a época das vacas gordas. Também levamos merenda que muitas vezes foi café com farofa de ovo. Quando nascia um irmãozinho, muitas vezes, minha mãe desmanchava uma roupa dela para fazer roupinha para aquele bebê. Na família, minha mãe até hoje é considerada uma personalidade por essas e tantas outras situações. Chegou num limite que uma família pediu um casal de nós, que já éramos sete. Eu e meu irmão mais velho tínhamos as características que esse casal desejava. Foi bastante tempo essa família nos agradando, nos assediando para ficar conosco. Meu pai resolveu mudar de cidade, e esse senhor que nos queria como filhos, era caminhoneiro. Ele levava nossa mudança. O caminhão parou na frente da casa dele para decidirem se eu e meu irmão ficávamos ou se seguiríamos com nossos outros irmãos. Entrou na casa, o meu pai para decidir com o casal. Eu e meu irmão aguardávamos encima do caminhão a sentença. Estávamos entre seis e sete anos. Imagina o nosso frio, a nossa dor. Foram poucas horas que duraram a eternidade. Até hoje dói, embora sabendo que fomos escolhidos pelas idades e por formarmos um casal de menino e menina. Não fica a dúvida: será só isso mesmo ou eles não gostam de nós? Hoje, Papai e Mamãe eu sei a verdade. E sei o quanto doeu em vocês tal situação. Eu lhes dou o meu perdão que parte do mais íntimo do meu ser, e lhes digo mais: que eu os amo muito mais que possam imaginar. Espero retribuir um pouco do que fizeram por mim nessa vida. Peço e pedirei perdão sempre e quantas vezes se fizer necessário pelas minhas rebeldias de criança, de adolescente e até de adulto, por aquelas mágoas que causei, sabendo que estava causando mas que não podia ser diferente, pois eu só estava sendo eu mesma. Eu preciso seguir em frente de cabeça erguida, me perdoando e perdoando a todos que passam pelo meu caminho nessa jornada que só o Pai Criador de todos os seres do Céu e da Terra sabe a hora do fim. Me perdoem as faltas. Eu os amo.

Obs: Antes do falecimento do meu pai tive a oportunidade de cuidar dele pessoalmente, de pedir perdão das minhas faltas e de lembrar dos momentos maravilhosos que vivemos juntos. vivi uma infância pobre, mas feliz porque a criança quer os pais ao lado dela e se tiver irmãozinhos para conviver, é mais um grande presente do Céu.