O ESPELHO

O que estou eu aqui, fazendo nesta sala vazia, acompanhado apenas da solidão e do vento que entra pela janela e faz balançar as cortinas ?

O relógio da sala já marca quase seis horas e eu aqui, escrevendo poesias. Gostaria de escrever sobre o mundo, sobre o amor, sobre mim mesmo. E aquele beija-flor que vai de vaso em vaso, parecendo procurar algo que esta difícil de encontrar.

As crianças brincam na rua, e ouço bem longe uma criança chorando. Eu e ela temos algo em comum, pois ambos choram, ela talvez por estar com fome, eu por solidão e tristeza.

O dia parece não ter fim e a noite eterna..

Durante muito tempo vivi no anonimato comigo mesmo, não sabia o verdadeiro significado da minha existência, apenas sofria as conseqüências que a mim ela empunhava.

Não sei porque mas de repente me surgiu um sentimento que a mim mesmo amedronta. Eram sentimentos que nem sabia explicar, apenas sabia que eram diferentes. Eu sou diferente.

Sinto-me um exemplo de uma exceção na humanidade, meus gestos, meus atos, procuro ser discreto.

Estou cansado, meus olhos pesam como pecado, a cada dia que passa estou mais abatido. Sinto a brisa novamente bater em meu rosto, logo após entrar pela janela. Vejo as pessoas indo e vindo, rindo, as mulheres com seus maridos, sinto que me falta a outra metade de uma existência ainda não completada. Mas tenho muito medo da sociedade, se for descoberto serei malhado como Judas, é um caminho sem volta, devo Ter cautela.

Mas o que me domina é tão forte que me faz rever todos os meus conceitos. A cada razão de meu desespero sinto que cada vez mais rápido rompe-se o anelo que me prende a realidade. É algo difícil de ser aceito numa sociedade acomodada.

As horas vão passando, ouço o tic-tac do carrilhão da sala, parecendo me dizer que o momento se aproxima a cada minuto.

Continuo pensativo, o cinzeiro já esta cheio de cinzas depositadas por minha mente. Estou eu mesmo olhando para mim mesmo, olho no olho, procuro definições, algo que mostre a minha diferença, estar em lugar onde nunca deveria estar, meus olhos brilham como vidro molhado ao sol. Quem sou ? Não sei a resposta.

Eu, olhando para mim mesmo, procuro respostas de questões que nem eu sei quais são. Tudo se torna opaco. Estou envolvido num mundo de faz de conta, mas ao mesmo tempo tão real.

O desejo que tenho é jogar tudo para o alto e mergulhar de cabeça neste mundo tão próximo e ao mesmo tempo tão distante.

Gostaria que tudo fosse fácil neste mundo. O que fazer ? Como se manifestar ? Boa pergunta.

Como responder, tendo a frente uma muralha enorme , chamada sociedade, que me impede de dizer uma só palavra, de fazer um só gesto sem ser condenado, sinto-me um gato acuado.