A ignorância é um presente

Sempre que ouço essa frase, penso no quão verdadeira ela é.

A medida que adquirimos conhecimento, seja acerca de algo científico ou mesmo estrutural, percebemos no quanto perdemos tempo com coisas tolas, no quanto deveríamos estar caminhando para mudanças que promovessem uma realidade de vida melhor pra outras pessoas.

O conhecimento nos possibilita traçar estratégias e enxergar soluções para muitos problemas, e por isso quem aprende a utilizar bem o conhecimento consegue enxergar o mundo com lentes diferentes, porém ao mesmo tempo, a estrutura existente torna a mudança muito difícil e isso é frustrante.

Um bom exemplo são as redes sociais, em que quanto maior a futilidade maior o alcance, não é que não possamos nos dedicar também às coisas bobas, mas é que elas não deveriam ser o centro das nossas vidas e determinados assuntos jamais deveriam virar chacota ou meme.

Crianças e adolescentes passam mais tempo nos smartphones e jogos on-line do que ao ar livre, brincando ou lendo algo interessante.

Adultos passam a semana torcendo pela chegada do fim de semana, para se afogar em lazer passageiro.

No geral desperdiçamos o nosso bem mais precioso que é o tempo, em coisas que trazem uma fuga do que é real, escolhemos ignorar os acontecimentos a nossa volta, fazemos comentários maldosos que atingem outras pessoas e não nos importamos com isso, porque tudo o que importa é a nossa satisfação pessoal.

Quando então não temos mais como fugir de nós mesmos, nos deparamos com problemas reais, que já estão gigantescos e nada mais parece preencher aquele espaço. Quando encaramos a realidade nos frustramos e por isso escolhemos ignorar, sorrir, fingir estar tudo bem…

Claro que isso não é sempre e nem o tempo inteiro, mas de uma forma geral é assim que agimos, e quanto mais adquirimos conhecimento mais sofremos, ao perceber como é lento o processo de mudança para a nossa evolução.

O problema do outro é dele, eu consigo fazer minhas compras, minhas viagens, ter o meu lazer e o meu emprego, se o outro não tem é porque não se “esforçou” o suficiente, “bullshit”.

Essa carta é também uma autocrítica.

Não digo que não devemos aproveitar as coisas boas que temos na vida, seja por mérito ou herdando de família rica, só que enquanto aproveitamos não podemos fechar os nossos olhos e fingir que não é problema nosso.

O problema é de todo mundo!

Não é sobre o que cada um acha é sobre o que acontece no mundo real.

A ignorância pode até ser um presente mas o conhecimento é uma ponte.

Quanto menos escolhemos aprender profundamente, mais nos iludimos com o que é superficial.