Carta de Caio, sobre o amor.

Aos quinze anos, eu acreditava que amar curaria tudo. ostentando a minha frieza e minha trepidez, eu dizia ao mundo, de forma bem menos poética do que eles imaginavam, que era possível sobreviver sem ser feliz. eu era o cara durão. mas acreditava que amar curaria tudo o que houvesse pra curar. mas o que eu não sabia, aos quinze, é que existem bem menos coisas pra curar do que acreditamos. existem bem menos loucuras no ato de ser triste e sozinho. e quando você finalmente descobre o universo, quando você descobre a liberdade, quando você descobre a grandeza do tempo, encontra um amor diminuto, escondido das paredes de uma velha escolha de um velho caderno de adolescente. encontra um amor sóbrio e sem graça, encontra um amor que cresceu demais, um amor que apanhou demais, um amor que tem contas a pagar e bem menos coisas divertidas a fazer. você descobre que o amor não cura nada, porque quem ama já tem as suas próprias doenças pra inventar. aos quinze, eu acreditava em alguém soberano, quase um deus, que me reergueria, que me enxugaria as lágrimas, que me levaria pra longe de tantos demônios que continuam rebeldes, mesmo eu tendo passado (e muito) dos quinze anos. você descobre que a euforia do primeiro beijo se perde ao longo dos anos, você descobre que o infinito só é grande pros ignorantes. você descobre que ama, assim mesmo, sem perceber, sem querer, enquanto chora e fuma um maço de cigarros, vira uma garrafa de bebida e deseja morrer. você ama mesmo assim, e a sua vida continua um saco. não existe ninguém que vá te chamar pra ir embora: você deve ficar, porque o amor é isso, é esperar, e não partir. aos quinze, eu esperava, sim, que o amor curasse tudo. mas eu não estava doente de nada. eu não estava precisando de nada. agora, eu preciso.

preciso de mais alguma coisa que me arrebate dessa dor profunda, que me ofereça um colo escondido, que despedace o meu coração e que lamba o meu sangue, que caia em teorias falsas e bonitas do infinito junto comigo. eu quero alguém como o alguém que eu tinha, aos quinze anos. eu quero um amor como aquilo que eu não achava que era amor, aos quinze.

eu sinto falta dos seus olhos castanhos. você disse que me amava, lembra? dentro do cinema, enquanto Legião Urbana tocava no filme. eu achava que o amor curaria tudo. você não me curou. mas você me cura aos poucos, agora. você e a sua inexistência, porque o amor sufoca, sempre tão presente e tão cuidadoso. você pegava na minha mão e eu não sentia nada. eu não aguento mais sentir tanto. eu quero não sentir nada, entende? você disse que eu era a sua única chance de ser feliz e que você tinha me perdido. tantos e tantos desencontros. eu amo você, você não me ama, você me ama, eu não amo você. eu quero voltar. mas eu não tenho pra onde voltar. não conheço mais você. eu não tenho como acreditar naquele amor de novo (no amor que você me ofereceu na sala do cinema, junto com as jujubas vermelhas). eu tinha quinze anos, você também, e a gente acreditava que o amor curava. eu amo, amo, amo e amo, eu não sou mais um cara durão, mas eu sinto falta de amar você. eu amo você e essa saudade absurda mais a cada dia que passa, porque você não existe mais na minha vida. eu estou amando agora mesmo. mas triste.

se você me ligasse agora, às 22h38 dizendo que sente a minha falta e que quer conversar comigo, dizendo que está triste porque você terminou seu relacionamento e tá precisando de um ombro amigo, se você me desse aquele abraço que me deixa com hematomas na alma sempre que ele acontece, se você me usasse como sempre usou, se você puxasse conversa sobre assuntos que eu não entendo, se você parasse de existir só nas minhas lembranças de quando eu tinha quinze anos, se você me quisesse, de qualquer forma, se você só me quisesse, se você me chamasse agora pra ir ao cinema, mesmo que não dissesse que me ama como fez na primeira vez, eu saberia. eu saberia que o amor cura tudo. mas ele não cura. eu não estou doente: eu estou triste. e está tudo bem. mas eu sinto falta de uma explosão. de tristeza ou de amor, tanto faz. eu sinto falta de estar vivo, e sinto falta de você também.

somos tão jovens, tão livres e tão tristes….

Caio tem TDAH e Depressão Severa... Me escreve sempre sobre sua percepção sobre o que sente.
Enviado por Monet Carmo em 05/08/2022
Código do texto: T7575980
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