Sobre o inferno do sentir

Você me faz questionar a minha sanidade, sabia?

Maluca. Acredite ou não, vez ou outra me pego olhando pela janela esperando te ver descendo a rua depois de jurar ter ouvido a tua voz chamando meu nome. Aquela mesma janela em que você costuma se apoiar e divagar sobre assuntos aleatórios, enquanto observa as nuvens dançando no céu das noites mais claras que já vi. Percebo o quanto gosto de observar tua silhueta ali, à contraluz da lua, enquanto fuma um cigarro demorado e suas mãos parecem dançar para complementar e dar mais ênfase à um daqueles teus argumentos filosóficos malucos.

Tola. Em que momento decidi que as doces mentiras proferidas pelos teus lindos lábios lhe dariam o aval para permanecer nos meus pensamentos por tanto tempo? Em que momento eu permiti que você bebesse, fumasse e trepasse com o pouco da sanidade mental que ainda me resta?

Diz pra mim, o que você tem pra me oferecer além de uma foda bem dada e todas essas mentiras que tua boca profere?

Loucura. Eu pensei que a nossa solidão fosse o único motivo para todo esse embarace. Tola. Eu jurei para mim mesma que não deixaria isso tudo ir além de um simples doar de corpos e carícias, porque te conheço e conheço a mim mesma. Jurei e não cumpri. Falhei e falho ao buscar evitar as consequências do erro que é sempre voltar pra tua cama.

Só os deuses sabem o inferno que é deitar na tua cama feita de espinhos e mesmo assim encontrar conforto. Só eles entendem a confusão mental que é admirar teu sorriso amarelo mesmo depois de ter provado do veneno dessas tuas presas quando cravadas no meu pescoço.

Sádica. Quando juntos nossos corpos ardem mais que qualquer inferno que se possa imaginar e eu amo o jeito como tudo isso queima. Você bate, chinga e judia e eu gosto do jeito como isso machuca.

Falha. Eu sempre falho quando o assunto é amor, ou melhor, quando o assunto é não senti-lo. Meu erro sempre esteve nas expectativas. Eu sempre quero mais, eu sempre espero mais. Eu sempre sinto mais e cada vez mais eu vivo no martírio que é sentir sozinha.

Inferno! Quando foi que esqueci que poetizar lembranças e sentimentos desse tipo de relação nunca é uma boa ideia? Quando foi que desaprendi que pensar sobre o sentir só faz com que ele cresça?

Parece que já esqueci da dor daquele outro amor que senti há pouco. Ou talvez eu lembre. Sádica. Talvez eu goste de sofrer. Talvez eu só goste de escrever. Talvez eu goste de você. Talvez não, eu tenho certeza que gosto. É porque já nem sei mais te por em linhas sem te sentir. Acho que estou sentindo demais, sinto muito por isso. Sinto sozinha, só eu. Sempre só.

Angelica Stefaniak
Enviado por Angelica Stefaniak em 10/03/2023
Reeditado em 10/03/2023
Código do texto: T7736648
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